Câmara aprova venda de comida de rua; proposta deve atrair alta gastronomia
Licença, que será sorteada pelas subprefeituras, valerá por dois anos, renováveis por mais dois. Comércio de bebidas alcoólicas nos furgões será vetado; projeto passou em segunda votação por unanimidade e agora segue para sanção de Haddad

28 de novembro de 2013 | 2h 02

Diego Zanchetta – O Estado de S.Paulo

Aprovada nessa quarta-feira, 27, em segunda votação pela
Câmara Municipal, a venda de comida de rua em São Paulo vai atrair, além do
churrasco grego e do yakissoba, pratos da alta gastronomia com preços mais em
conta. O francês La Casserole, a hamburgueria americana PJ Clarke’s e o
brasileiro Dalva & Dito, do chef Alex Atala, são algumas das casas que
devem ganhar versões informais em “food trucks”, furgões móveis agora
liberados pelos vereadores. A proposta segue para sanção do prefeito Fernando
Haddad (PT).

A proposta foi elaborada na esteira do sucesso das recentes
feiras gastronômicas realizadas na Vila Madalena nos fins de semana e durante a
Virada Cultural.

Para donos de restaurantes, a permissão é a chance de tornar
acessível, a um público maior, pratos consagrados da culinária paulistana.
“É muito interessante poder fazer uma comida sem os custos criados pela
estrutura pesada de um restaurante, como garçom, impostos e aluguel. É isso que
deixa os pratos tão caros. Sem essa estrutura podemos fazer pratos com preços
muito mais acessíveis”, argumenta Marie France Henry, dona do La
Casserole, que serve alta gastronomia francesa desde 1954 no Largo do Arouche,
no centro.

Um clássico da casa é o coq au vin (galinha marinada no
vinho), que deve ganhar uma versão informal de rua.

A legislação em vigor hoje só permite que vendedores de
cachorro-quente tenham autorização para trabalhar nas ruas. Mas, desde abril de
2007, nenhuma licença é emitida. Nas feiras livres estão liberados apenas os
vendedores de pastéis. Até os sanduíches de calabresa foram proibidos nos
estádios de futebol a partir de 2010, por determinação da Vigilância Sanitária.
Nos fins de tarde no centro, principalmente na Rua Barão de Itapetininga, é
comum ver vendedores informais de espetinho correrem da fiscalização da Guarda
Civil Metropolitana (GCM).

Dois anos. A nova proposta define que o vendedor com licença
para trabalhar na calçada deve manter 1,2 metro de passagem livre para os
pedestres. As 31 subprefeituras vão sortear licenças para a venda de alimentos
em furgões. Bebidas alcoólicas estão vetadas. O período da licença será de dois
anos, renováveis por igual período.

“É uma boa forma de interagir com o público de um jeito
mais informal, com preços acessíveis, sem os custos operacionais tão caros de
um restaurante”, afirma Charles Piriou, sócio e diretor do PJ Clarke’s,
lanchonete que tem na capital paulista suas únicas filiais fora de Nova York.
Os hambúrgueres da casa custam mais de R$ 30, preço que será reduzido para a
venda na rua.

O chef Alex Atala, um dos principais defensores do projeto,
chegou a fazer uma apresentação aos vereadores sobre a importância de levar a
gastronomia de qualidade para a rua. Seu objetivo é ter um food truck para
servir a galinhada do Dalva & Dito. O governo também espera licenciar
barracas de temakis, pizzas, sucos, doces e pipoca, entre outros.

Ambulantes. As licenças também vão beneficiar pequenos
comerciantes que tentam sobreviver nas ruas de forma ilegal. “Já perdi
muita mercadoria. Quero entrar nesse projeto e começar a trabalhar com
espetinhos”, afirma Thiago Niza, que tem um furgão onde vende
cachorro-quente. “Sempre há agressão nas fiscalizações, é muito difícil
trabalhar com essa apreensão”, conta.

O projeto, que passou em segunda votação sem objeções nem
votos contrários, é assinado pelo líder de governo do PT no Legislativo,
Arselino Tatto, e pelos dois principais líderes da oposição, os vereadores
Andrea Matarazzo e Floriano Pesaro, ambos do PSDB. O vice-presidente da Câmara,
Marco Aurélio Cunha (PSD), e o vereador e empresário Ricardo Nunes (PMDB)
também colaboraram na autoria do texto.

http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,camara-aprova-venda-de-comida-de-rua-proposta-deve-atrair-alta-gastronomia,1101493,0.htm