Banco deixa de operar, funcionários são dispensados, ações saem da Bolsa e liquidante assume
DE SÃO PAULOO Banco Central liquidou ontem o Cruzeiro do Sul, instituição financeira que pertenceu à família Índio da Costa e que teve um rombo contábil de R$ 3,1 bilhão após a descoberta de mais de 300 mil empréstimos fictícios.
É a maior liquidação de uma instituição financeira desde o Banco Santos, em 2005, apesar de o Cruzeiro do Sul representar apenas 0,35% dos depósitos e 0,25% dos ativos do sistema financeiro.
O BC também decretou a liquidação do Banco Prosper, que tem 0,01% dos depósitos do país e que foi comprado pelo Cruzeiro do Sul no final do ano passado. O Banco Central, no entanto, nunca aprovou o negócio.
Na prática, a liquidação encerra, sem volta, as atividades comerciais do banco. As unidades são fechadas, os investidores não podem mais sacar suas aplicações, a maioria dos funcionários é dispensada e as ações deixam de ser negociadas na Bolsa.
No lugar dos administradores, entra um liquidante que fica responsável por fazer um inventário de tudo o que pode ser vendido e convertido em dinheiro para pagar os credores. Os primeiros a receber são os funcionários.
INTERVENÇÃO
O banco estava sob intervenção desde 4 de junho pelo FGC (Fundo Garantidor de Créditos), que é também o responsável por indenizar em até R$ 70 mil os depositantes (vale para cada CPF) e em até R$ 20 milhões os investidores que compraram títulos com garantia especial (DPGE).
No caso, o FGC é o maior credor -portanto, o maior interessado em encontrar uma solução- e terá agora de desembolsar R$ 1,9 bilhão para ressarcir os aplicadores.
Segundo o Banco Central, cerca de 35% dos depósitos do Cruzeiro do Sul contam com garantia do FGC.
Durante a intervenção, o FGC refez toda a contabilidade, negociou um desconto de 49,3% no valor das dívidas com os credores e procurou um comprador para o banco.
A negociação com os credores foi considerada um sucesso -mais de 85% aceitaram o desconto. Agora, esses credores terão de entrar na fila para receber os valores da massa em liquidação.
Por outro lado, a venda do banco acabou inviabilizada por uma série de questões legais e comerciais.
Para começar, o negócio de crédito consignado já não atrai mais os grandes bancos, que podem fazer esses empréstimos com menor custo nas agências.
O comprador teria ainda de trazer pelo menos R$ 700 milhões ao Cruzeiro do Sul.
O que mais interessava era um crédito tributário que poderia chegar a R$ 1 bilhão. O problema é que esse crédito foi calculado com base em empréstimos contestados.
Cinco bancos participaram das conversas para comprar o Cruzeiro do Sul. No final só ficaram o BTG Pactual e o Bradesco, que desistiram no início da semana.
O FGC, então, apelou ao Santander, que já tinha desistido, mas aceitou discutir. Sem o Santander, a solução foi recomendar a liquidação. (TONI SCIARRETTA)
Fonte: Folha de S.Paulo/Mercado