Pesquisadores da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) deram início, em maio, ao trabalho Rastreamento de câncer colorretal: estudo piloto através da pesquisa de sangue oculto nas fezes por teste imunoquímico, que pretende abranger 16 mil pessoas de 50 a 75 anos da zona leste da capital.
O objetivo do estudo – o maior feito no País – é avaliar as condições para o estabelecimento de política pública de largo alcance (pelo Sistema Único de Saúde – SUS), que possibilite a detecção da doença em seu estágio inicial. “Nosso objetivo final é diminuir a incidência e letalidade dessa doença”, explica o coordenador da ação e professor da FMUSP, José Eluf.
Financiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), a iniciativa é desenvolvida em conjunto com a Atenção Primária à Saúde (APS) Santa Marcelina, parceira da Secretaria Municipal de Saúde na gestão de Unidades Básicas de Saúde da rede municipal nos bairros Cidade Tiradentes, Ermelino Matarazzo, Guaianases, Itaim Paulista, Itaquera, São Mateus e São Miguel.
De acordo com o coordenador, a escolha dos bairros teve como critério a própria atuação da APS Santa Marcelina no município. “Eles desenvolvem um trabalho bastante atuante e articulado nessa região”, ressalta. O programa tem também a participação da Fundação Oncocentro de São Paulo (Fosp), do Hospital das Clínicas da FMUSP e do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (Icesp), além do apoio das secretarias municipal e estadual de Saúde.
Precoce – A importância da pesquisa tem origem, segundo Eluf, no significativo crescimento da ocorrência de câncer colorretal nos últimos anos, devido ao envelhecimento da população. “É o segundo tipo de maior incidência no Estado e o terceiro no País, ocasionando 18 mil mortes por ano”, destaca. A doença atinge o intestino grosso (cólon e reto) de pessoas de qualquer sexo e idade, mas aparece mais frequentemente a partir dos 50 anos (cerca de 90% dos casos).
Ao mesmo tempo, é um dos tipos de câncer mais facilmente evitáveis a partir de exames preventivos, ao lado dos de colo de útero e de mama. O especialista informa que, se detectado precocemente, tem tratamento eficaz na maior parte dos casos.
“Normalmente, esses tumores manifestam- se a partir de pólipos, dilatações que surgem na parede do intestino grosso, inicialmente benignas. Assim, podemos removê-los antes de se tornarem malignos, quando os identificamos logo”, explica Eluf.
Em vista desse quadro, o método diagnóstico considerado mais adequado para a prevenção, entre três disponíveis, é a pesquisa de sangue oculto nas fezes por teste imunoquímico, pois os pólipos costumam sangrar discretamente.
“Os outros são a colonoscopia e o retossigmoidoscopia, exames que requerem mais estrutura, são mais caros e mais incômodos. A vantagem do teste de sangue oculto está na sua simplicidade e no fato de apresentar bons resultados para a prevenção em pacientes assintomáticos”, afirma o médico.
No entanto, ele alerta que um dos desafios do estudo é a sensibilização da população sobre a importância da ação, pois reconhece certa resistência relacionada à realização de exames de fezes. “Geralmente, as pessoas preferem fazer exame de sangue, mesmo com a picada”, comenta.
Para contornar essa dificuldade, Eluf entrou em contato com os responsáveis pelo coletor Coloff, um produto que facilita a coleta de fezes e urina. “A empresa, de mesmo nome do produto, vai doar os 16 mil coletores necessários para a pesquisa”, conta o coordenador. Trata-se de uma sacolinha plástica esterilizada e adaptável ao vaso sanitário que pode ser usada para a coleta e o acondicionamento da amostra.
Embora o teste disponível hoje em dia seja bem mais fácil de fazer, pois, segundo o médico, requer apenas uma amostra única (em vez das três antes necessárias), e o procedimento na pesquisa tenha o suporte do Coloff, uma das questões a serem ponderadas com o estudo é justamente a adesão da população ao exame preventivo. “Vamos calcular a taxa de aceitação”, informa o coordenador.
Outro ponto que merece atenção é o dimensionamento da estrutura secundária e da rede de serviços necessária para garantir a continuidade do tratamento dos pacientes que apresentarem o diagnóstico da doença. “Queremos, dessa forma, contribuir para o planejamento e a execução de políticas direcionadas à detecção precoce e à redução de casos e mortes por câncer colorretal”, avisa.
DOE, Executivo I, 30/06/2016, p. II