Prédio erguido por jesuítas no Pátio do Colégio foi primeira sede da Assembleia
Em 180 anos de história, Parlamento paulista já teve quatro endereços

Da divisão de acervo histórico

Ao longo de sua existência, que no ano que vem completará 180 anos, a Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo ocupou quatro prédios.
Todas estas edificações marcaram e ainda marcam, histórica, cultural e arquitetonicamente, a Cidade de São Paulo. Dos quatro, dois ainda existem: o Palácio das Indústrias, inaugurado em 29 de abril de 1924, sediou a Assembleia Legislativa de 1947 a 1968. Situado no Parque Dom Pedro 2º, abriga hoje o museu Catavento; e o Palácio 9 de Julho, atual sede do Legislativo paulista, inaugurado no dia 25 de janeiro 1968. Projeto do arquiteto Adolpho Rubio Morales, foi o único entre as quatro sedes a er construída com o fim específico de alojar o Poder Legislativo paulista. Tudo nele, até a mobília, foi então exclusivamente idealizado com este fim.
Dos edifícios que não mais existem, um deles era situado próximo à atual praça João Mendes, no antigo Largo de São Gonçalo. De 1879 a 1893, os parlamentos do município e da província ompartilharam o mesmo endereço. Como era usual os edifícios públicos no período colonial brasileiro, câmara e cadeia eram construídos em um mesmo prédio. Em 1878, o pavimento térreo – que originalmente fora destinado a um xadrez, uma enxovia (masmorra), uma casa de trabalho para homens, uma enfermaria e uma prisão para mulheres – foi reformado para receber, no ano seguinte, a Assembleia Legislativa Provincial de São Paulo.
A primeira sede do Legislativo de São Paulo, de cuja construção também não há resquício, é tão antiga quanto a própria capital paulista.

Pátio do Colégio
Em 25 de janeiro de 1554, onde havia uma pobre casa de barro e pau-a-pique coberta de palha, ocorreu a missa, celebrada pelo padre jesuíta Manuel e Paiva, que marcou a fundação da cidade de São Paulo. Essa casa, situada no atual Pátio do Colégio, era ao mesmo tempo refeitório, dormitório, cozinha, despensa, nfermaria e escola. Em seu lugar, em 1º de novembro de 1556, foram inauguradas novas edificações para a Igreja e o Colégio dos Jesuítas. Este último foi construído em pilão, caiado com tabatinga – palavra que vem do tupi e designa um barro branco tilizado na caiação de paredes -, dispunha de oito cômodos de sobrado, forrados e assoalhados, e de “oficinas bem acomodadas e, o claustro, um poço de água boa; tendo também um grande pomar, abundante em frutos de variedade estrangeira, horta de verduras e legumes, muros cobertos de parreiras e belo jardim com grande ariedade de flores, predominando rosas e cravos vermelhos”. O Colégio dos Jesuítas foi, até meados do século 18, praticamente o único estabelecimento de ensino da cidade de São Paulo. Em 1640, por combaterem a escravização dos índios, os jesuítas foram expulsos de sua igreja e colégio. A eles retornaram treze anos depois, encontrando os prédios em estado de ruína. Isso determinou que fossem reconstruídos e ampliados, desta vez em “barro apiloado e pedra”, entre 1667 e 1671. Em 1745 iniciou-se a ampliação do colégio, pela incorporação de uma grande ala perpendicular na sua lateral direita. Era um edifício de dois pavimentos, com uma fachada de 18 vãos, entre portas e janelas. Isso deixou o conjunto com 44 cômodos no andar superior e 25 no térreo. Nele, em 1746, Dom Bernardo Rodrigues Nogueira, primeiro bispo da Diocese de São Paulo, instalou o Palácio Episcopal.
Em 1759, a Companhia de Jesus foi abolida em Portugal e nas suas colônias, e os jesuítas deixaram o colégio em janeiro de 1760, sendo ele e seus bens confiscados pela Coroa portuguesa. Esta determinou que o edifício, a partir de 1765, se convertesse em Palácio do Governo e residência oficial dos Capitães- Generais Governadores de São Paulo. Com a proclamação da Independência do Brasil, o edifício continuou abrigando os presidentes da província paulista e várias repartições públicas.
Por meio da Lei Imperial 16, de 12 de agosto d e 1834, ocorreu a reforma da Constituição do Império do Brasil, conhecida como Ato Adicional, na qual foram estabelecidas as Assembleias Legislativas Provinciais. Por determinação do presidente da província de São Paulo, o brigadeiro Raphael Tobias de Aguiar, foram marcadas eleições para o dia 9 de novembro de 1834 e o início dos trabalhos do Legislativo Paulista para o dia 2 de fevereiro de 1835.
Como não havia um local amplo o suficiente para abrigar o Legislativo Paulista, o presidente da província determinou que a ele fosse destinado um espaço no Palácio do Governo, transformando-o em sua primeira sede. Assim, daquela data até 1879, quando a Assembleia Provincial ocupou outra sede, fundiam-se as trajetórias do Legislativo Paulista e do marco de fundação da Imperial Cidade de São Paulo.

Instalação da Assembleia
Em sessões preparatórias realizadas em 31 de janeiro e 1º de fevereiro de 1835 foram reconhecidos os diplomas dos deputados eleitos. No dia 2 de fevereiro foi instalada a Assembleia Legislativa Provincial de São Paulo, tendo como seu presidente Nicolau Pereira de Campos Vergueiro.

Antônio Egídio Martins, importante cronista paulistano, em seu livro São Paulo Antigo (1554-1910), de 1912, narra a solenidade:
“O ato da instalação da Assembleia Legislativa Provincial foi revestido de grandes demonstrações de regozijo, tendo o presidente da Província ordenado que ao despontar da aurora se desse, no mencionado dia 2 de fevereiro de 1835, uma descarga de artilharia de 21 tiros e, às 9h marchassem para o largo de S. Gonçalo, hoje praça Dr. João Mendes, o 1º e 2º batalhões de Guarda Nacional, o esquadrão de cavalaria, as praças disponíveis do 6º batalhão de caçadores de 1ª linha e das companhias de infantaria e cavalaria de municipais permanentes, e ali formando-se em brigada […] para dar três descargas de infantaria alternadas com as de artilharia depois de realizada a sua instalação, dando-se também, ao pôr do sol, outra descarga de 21 tiros de artilharia. A Câmara Municipal, assim como todas as autoridades civis e militares, compareceram ao ato de instalação da Assembleia Provincial.”

A arquitetura
O mesmo cronista prossegue e nos dá alguns detalhes sobre as instalações e condições de funcionamento do Legislativo:

“As galerias da Assembleia, apesar de acaçapadas, eram, durante o dia, muito escuras, e, à noite, quando havia sessão, os frequentadores das mesmas sofriam bastante por causa da falta de luz, não só na escada como nos corredores, levando muitos deles encontrões ou quedas, o que dava lugar a gostosas gargalhadas, aparecendo então, o guarda das galerias munido de uma vela de sebo para verificar o que se estava dando, e, ato contínuo, colava na parede do corredor a mesma vela, cessando assim as reclamações e risadas que costumavam frequentar as galerias.
A iluminação do recinto da Assembleia, nas sessões noturnas, era feita em dois ou três candelabros de três velas de esparmacete cada um, de modo que elas pouco clareavam o mesmo, sendo bastante difícil, por esse motivo, distinguir-se das galerias as pessoas dos deputados que se achavam presentes às mesmas sessões noturnas.”

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