Medida só vale para parte dos cursos e inclui reserva de vagas para alunos da rede pública, pretos, pardos e índios
FÁBIO TAKAHASHI
DE SÃO PAULO
A USP decidiu nesta terça-feira (23) usar o Enem para escolher 13,4% dos novos alunos e fazer, pela primeira vez, reserva de vagas na seleção de calouros de graduação.
Do total de postos para o ano que vem, 10,5% serão destinados a alunos do ensino médio público, selecionados pela prova nacional.
Dentro dessa proporção, haverá ainda uma cota específica para estudantes autodeclarados pretos, pardos e indígenas formados na rede pública. Eles terão acesso a 2% das 11.057 vagas oferecidas pela universidade.
As mudanças na seleção de alunos ocorrem devido à entrada da universidade no sistema federal chamado Sisu, em que estudantes do país todo disputam vagas em universidades com base em suas notas no Enem.
Cada unidade da USP pôde optar se entraria no sistema, além de decidir o número de vagas oferecidas e a eventual adoção de cotas.
Ao todo, 13,4% dos novos alunos serão selecionados pelo Sisu. Essa proporção inclui os alunos de escola pública (10,5%) e os demais inscritos no Sisu (2,9%).
O restante das vagas (86,6%) continuará sendo preenchido pela Fuvest.
Cursos da capital como medicina, engenharia e administração decidiram não entrar no sistema federal e continuam selecionando seus alunos apenas pela Fuvest.
Por outro lado, aderiram às mudanças cursos como o de medicina de Ribeirão Preto (10% das vagas pelo Sisu) e, na capital, os de direito (20% das suas vagas para o ensino público) e relações internacionais (10% para ensino público e 10% para pretos, pardos e indígenas).
Das 42 faculdades da USP, 32 aprovaram o ingresso em ao menos uma opção do sistema federal de seleção.
Até a decisão desta terça, a principal medida da USP de incentivo a alunos de fora da rede particular era bônus no vestibular da Fuvest para egressos da rede pública –com acréscimo para autodeclarados pretos, pardos e indígenas. A bonificação, mantida, pode chegar a 25%.
HISTÓRICO
“Foi uma decisão histórica, representa grande oportunidade para estudantes do Brasil ingressarem na USP. Principalmente os oriundos de escolas públicas”, disse o reitor, Marco Antonio Zago.
No último vestibular, 65% dos aprovados vieram da rede particular, que representa cerca de 15% do ensino médio no Estado de São Paulo.
Desde que tomou posse, no ano passado, o reitor defende que a USP deve diversificar sua seleção de calouros.
Para ele, a prova da Fuvest é eficiente, mas pode deixar de fora estudantes com bom potencial. O Enem é conhecido por exigir mais raciocínio e menos conteúdo.
Por outro lado, há o temor em parte da instituição de que entrem alunos menos preparados para os cursos da melhor universidade do país.
O diretor da Faculdade de Medicina, José Otavio Auler Júnior, disse, por exemplo, que o Enem precisa de mais tempo para se “consolidar”.
Representantes dos alunos no Conselho Universitário, que aprovou a medida nesta terça, defenderam que a instituição deveria ter optado por uma proposta mais ousada, com um sistema amplo de cotas. “O que foi aprovado é um subterfúgio para não discutir de fato as cotas”, disse a aluna Marcela Carbone, 23.
As mudanças valem para a seleção de calouros do ano que vem e serão reavaliadas também em 2016.
Folha de S. Paulo