Mais de 24 horas depois de temporal ainda havia 350 mil imóveis sem energia e 134 semáforos apagados
DE SÃO PAULO
A chuva que atingiu São Paulo na segunda-feira (12), com ventos de 85 km/h, deixou 800 mil imóveis sem luz na região metropolitana –um em cada oito atendidos pela AES Eletropaulo– e levou a empresa a prever que só conseguirá normalizar a situação ao longo desta quarta (14), dois dias depois do temporal.
Mais de 24 horas após a chuva e a ventania, ainda havia 350 mil casas e comércios sem energia, ao menos 134 semáforos com defeito e bairros sem água devido à falta de luz em estações elevatórias.
A situação foi classificada pela Eletropaulo como a pior ao menos desde junho de 2011, quando houve a passagem de ciclone extratropical.
Os fortes ventos derrubaram 78 árvores –segundo a prefeitura, em 15 dias, a quantidade de quedas, próxima de mil, é equivalente à metade do esperado em um ano.
A Eletropaulo recebeu mais de 1 milhão de chamadas de clientes e afirmou que os bairros mais afetados foram nas zonas sul e oeste, como Brooklin, Campo Belo, Moema, Ibirapuera, Morumbi e Butantã.
O vice-presidente de operações da empresa, Sidney Simonaggio, disse que todas as equipes foram acionadas. “Não se trata de reparar a rede, mas de reconstruir a rede. Esse trabalho de reconstrução chega a levar seis, oito horas. Esse é o problema que acaba gerando o fenômeno da fila.”
Questionado, negou haver incapacidade de a central telefônica fazer atendimentos em situações de emergência.
“Eu tenho um cenário com momentos de pico. Agora, podem existir situações em que esse cenário é superado. Nós vamos levar oito estepes no nosso carro?”, questionou.
Responsável pela fiscalização da concessionária, a Arsesp (agência estadual que regula saneamento e energia) está fazendo uma auditoria na sede da Eletropaulo.
O órgão diz que fará um relatório sobre as falhas no serviço, o que deve resultar em processos administrativos.
A Aneel (agência nacional de energia elétrica) afirma que os consumidores são compensados quando a concessionária ultrapassa os limites de interrupção de energia estabelecidos para cada área. Mas geralmente esse valor é insignificante –de R$ 1 a R$ 2 descontados na conta.
Nesta terça à noite, voltou a chover em São Paulo, mas com menos impacto. Na zona norte houve queda de granizo. A linha 9-esmeralda da CPTM, que beira a marginal Pinheiros, teve todas as estações fechadas por mais de uma hora devido à queda de um raio no sistema elétrico.
Apesar dos transtornos do dia anterior, a capacidade do sistema Cantareira, que vive a pior crise de sua história, teve queda pela manhã –à noite, ele recebeu chuva forte.
Os próximos dias terão condições típicas de verão –sol e calor de dia e pancadas de chuva no fim da tarde.
‘DESPROPORCIONAL’
O secretário de Coordenação das Subprefeituras da gestão Fernando Haddad (PT), Ricardo Teixeira, afirmou que a quantidade de árvores tombadas já superou qualquer programação.
“Nos últimos cinco anos, caíram 2.000 árvores em média por ano. Nós usamos as estatísticas para nos planejar e montar as equipes, mas neste ano [com mil quedas em 15 dias] ocorreu um fenômeno desproporcional, que ainda estamos estudando”, disse.
A principal surpresa nos temporais deste ano, de acordo com ele, foram ventanias. “Isso explica parte das quedas porque essas árvores não são velhas. Nossa equipe constatou que 66% delas estavam sadias quando caíram.”
Teixeira disse que, desde 29 de dezembro, quando houve a primeira grande tempestade (que deixou 500 mil sem luz), há um mutirão para ajudar as áreas mais afetadas.
(ARTUR RODRIGUES, FELIPE SOUZA E RICARDO GALLO)
Folha de S. Paulo