Setembro Amarelo: mês da prevenção do suicídio


Dados de 2014, do Mapa da Violência do Ministério da Saúde (MS), apontam 32 suicídios por dia no Brasil. De acordo com a Associação Internacional de Prevenção do Suicídio (Iasp), 830 brasileiros tentam suicídio diariamente. Com a expectativa de mudar esse quadro, a associação promove o Setembro Amarelo: mês dedicado à prevenção do suicídio. Com o tema Doe um minuto, mude uma vida, a meta é alertar a população sobre a importância do apoio que pode salvar vidas.


Especialista do HC diz que pessoas suicidas, m geral, são do sexo masculino, solitárias, não têm apoio familiar nem amigos, porém, há ajuda e apoio gratuitos


A Organização Mundial da Saúde (OMS) divulga que o problema de saúde pública responde por uma morte a cada 40 segundos no mundo. Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), dados de 2012, mais de 800 mil pessoas vão a óbito por suicídio todo ano no mundo. É a segunda principal causa de morte de jovens de 15 a 29 anos, superado apenas pelos casos de homicídios e acidentes em geral. A maioria (75%) dos suicídios ocorre em países de baixa e média renda.


“O suicídio é mais frequente nos países subdesenvolvidos por causa da acentuada vulnerabilidade dos cidadãos, o que gera sensação de falta de suporte social. São questões como pobreza, endividamento, conflitos armados, guerras, desemprego, violência e problemas políticos”, informa o médico Rodrigo Fonseca Martins Leite, coordenador dos Ambulatórios do Instituto de Psiquiatria (IPq), li gado ao Hospital das Clínicas (HC) da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP).


Doença mental Muitas pessoas que têm a intenção de tirar a própria vida são acometidas de doença mental. É comum serem portadoras de de pressão, transtorno de ansiedade e dependentes de álcool e outras drogas, ressalta o especialista do IPq. Entre os indicadores de suicídio, o médico aponta a alta prevalência entre homens jovens com acesso a armas de fogo e que ingerem superdosagem de medicamentos. “Em geral, eles são solitários, não têm apoio familiar nem amigos. Todos devem ficar atentos caso essa pessoa verbalize frases como: Minha vida não tem sentido.”


De acordo com Martins Leite, é mito o dito popular “quem tenta não quer realmente se matar”. Diante da tentativa de morte, quem está próximo deve oferecer apoio ou chamar alguém de confiança para ajudá-lo. É necessário procurar auxílio médico no posto de saúde, Centro de Atenção Psicossocial (da prefeitura) ou hospital psiquiátrico para iniciar o tratamento. Casos mais graves exigem internação.


“O suicídio é comum entre os homens, pois é considerado o sexo frágil na saúde mental. Ele se sente mais solitário do que o sexo feminino e em geral não busca ajuda sozinho. Enquanto a mulher está amparada em rede social, no apoio familiar. A sua relação com a maternidade e os cuidados com um filho são considerados fatores protetores para o suicídio”, compara. O especialista estaca também que, no Brasil, o suicídio causa mais mortes do que numa guerra. No entanto, diz que o assunto é pouco divulgado por tabu, entre eles “psiquiatra é médico de louco, o que desestimula, muitas vezes, o doente a procurar tratamento”.


Sociedade vigilante Sessenta a 70% dos transtornos mentais crônicos são recorrentes e se manifestam mais de uma vez ao longo da vida, frisa o médico. No entanto, as doenças mentais têm controle, porém, exigem acompanhamento médico por tempo indeterminado. Ele diz que a família, a comunidade, a escola devem estar vigilantes quanto ao perfil de quem tenta se matar. E enaltece a importância da informação para ajudar quem precisa e incentivá-lo a aderir ao tratamento clínico.


De acordo com a OMS, o Brasil é o oitavo país do mundo em número absoluto de homicídios. No ano 2000, havia 5,3 casos de morte provocada a cada 100 mil habitantes, número que subiu para 5,8 em 2012, registrando um aumento de 10,4%. O Centro de Valorização da Vida (CVV), instituição voluntária e gratuita de apoio emocional e prevenção do suicídio, informa que, entre as 20 cidades brasileiras com maior número de suicídios, 11 estão no Rio Grande do Sul, sendo a primeira delas Venâncio Aires.


“Essa situação motivou o Ministério da Saúde (MS) a nos ceder, em 2015, uma linha telefônica exclusiva (188) para ligações no Rio Grande do Sul”, informa o voluntário Carlos Correia, coordenador nacional de divulgação do CVV. Em março, foi assinado convênio com o MS para estender o serviço telefônico gratuito a todo o Brasil. “Até o final desse mês o atendimento telefônico (188) começará a funcionar nos oito Estados brasileiros com maiores números de suicídios registrados (Mato Grosso do Sul, Santa Catarina, Piauí, Roraima, Acre, Amapá, Rondônia e Rio de Janeiro)”, anuncia. A expectativa é que, até o final de 2020, seja expandido para todo o País.


Romper isolamento – Até agora, quem enfrenta momento de fragilidade e busca um alívio, procura o CVV pelo número 141, com custo de ligação local e de celular. Com a assinatura do convênio, as ligações serão gratuitas, inclusive as de celular.


Correia diz que, ao compartilhar seu sofrimento, a pessoa se sente aliviada e rompe o isolamento. “O voluntário que está do outro lado da linha não é profissional de saúde mental nem oferece sugestões de conduta diante do problema. A conversa no CVV não substitui a terapia. Somos um pronto-socorro emocional no momento de crise de um ser humano e estamos aptos a ouvi-lo compreensivamente, sem julgamento”, explica.


Com 55 anos de existência, o CVV tem credibilidade devido ao anonimato de seus voluntários. Seus 2,2 mil atendentes em território nacional realizam um milhão de atendimentos anuais em 18 Estados mais o Distrito Federal. “Ao desabafar, quem procura o CVV consegue se reestabilizar, o que facilita à pessoa encontrar seu caminho”, avalia Carlos Correia.


SERVIÇO


• Consulte o site https://www.cvv.org.br e verifique os endereços dos 80 postos de atendimento presencial. Pela página da Web, pode-se comunicar via Chat, VoIP (chamada de voz pela internet), e-mail e ainda fazer download gratuito da cartilha Falando abertamente sobre suicídio, no link Conheça Mais • O CVV está com inscrições abertas para interessados em atuar como voluntários e preencher as 2,2 mil vagas no Brasil. É necessário ter mais de 18 anos e participar de capacitação e seleção da instituição. Informações e inscrições no site http://www.cvv.org.br/voluntario


Viviane Gomes


Imprensa Oficial – Conteúdo Editorial


DOE – Seção I – p. IV