Alunos da rede estadual de ensino poderão utilizar seus celulares, com orientação dos educadores, em atividades nas escolas. Projeto de lei aprovado pela Assembleia Legislativa
no dia 11 altera a Lei Estadual nº 12.730/2007, que proibia o uso de celulares em escolas estaduais. A proposta foi encaminhada pelo Executivo, a pedido da Secretaria da Educação do Estado.
Lei que proibia a utilização foi modificada, mediante proposta da Secretaria da Educação, para motivar estudantes
Antes mesmo de sua aprovação, alunos da Escola Estadual Professor Astrogildo Silva, na zona sul da capital, faziam uso de smart phones em algumas disciplinas. Com autorização da direção da escola, dois professores iniciaram em 2016 atividades que levaram, neste ano, à criação do aplicativo Astrogildo On-line. Nele estão reunidos blogs de professores, com conteúdo de aulas e exercícios, e do jornal da escola. Os alunos podem ter acesso às informações por meio de seus celulares.
Processo – A escola tem cerca de 700 estudantes. Nos períodos da manhã e da tarde, são alunos do 1º ao 9º ano do ensino fundamental. À noite, da Educação de Jovens e Adultos (EJA). Gustavo Orsati, professor de Matemática, e Bruno de Oliveira, que leciona História, estão à frente da iniciativa de utilização da tecnologia de informação para os estudos.
O processo foi paulatino. A sala de informática da escola existe há anos, mas sua utilização não era sistemática. No início do ano passado, os dois educadores conversaram sobre isso e Oliveira começou a utilizar uma ferramenta gratuita de internet para gerir salas de aula on-line. Os alunos iam à sala de informática e tinham a possibilidade de utilizar os computadores para estudar conteúdos das aulas e resolver questões.
Os estudantes reagiram bem à novidade, mas havia empecilhos. Em virtude de ser um sistema fechado, era necessário colocar login e senha de cada aluno para que pudesse trabalhar. Numa aula de 50 minutos, com cerca de 35 alunos, essa simples operação tomava um tempo precioso. “Dissemos então: vamos pensar em algo para expandir os 50 minutos”, conta Orsati.
O passo seguinte foi a criação de blogs iniciada por Oliveira. Os estudantes passaram a ter acesso aos conteúdos pedagógicos não apenas na sala de informática, mas de um computador em casa ou em outro local.
Aplicativo – O sucesso da iniciativa acabou criando outras necessidades. Há dez computadores na sala de informática. Durante a aula, a maioria dos alunos tinha de aguardar enquanto os colegas utilizavam o equipamento. Ao mesmo tempo, praticamente todos têm smartphone.
O desafio, então, foi pensar em como poderia ser utilizado o celular diretamente nas atividades pedagógicas. Finalmente, no início deste ano, Oliveira e Orsati concluíram o app Astrogildo On-line. Com ele, todos os blogs existentes passaram a ficar acessíveis no celular de qualquer pessoa, bastando que instale o aplicativo, gratuitamente.
Os conteúdos dos blogs são enviados também para uma página do Facebook. “Tudo isso virou um projeto por causa da aceitação dos alunos. No começo, era apenas um meio de facilitar nossas aulas com o uso de tecnologia”, relata Orsati. Oliveira pensa agora em partir para uma nova fase.
No blog de cada professor, acessível pelo aplicativo Astrogildo On-line, o aluno se identifica e pode, por exemplo, fazer a chamada “compensação de ausência” – exercícios relativos a uma aula que tenha perdido. Além de o conteúdo estar num ambiente mais acessível às crianças e adolescentes, os professores passaram a usar recursos de vídeo, áudio, gráficos e outros que tornaram a exposição mais atrativa. O professor de História, Bruno de Oliveira, exemplifica: “O ensino de História às vezes é abstrato. O uso desses recursos ajuda muito ao tratar de temas
como escravidão ou Grécia antiga”.
A intenção é gravar vídeos e difundi-los pelo YouTube, com orientações para outros professores que queiram fazer o mesmo em suas escolas.
Rendimento – Na avaliação dos dois educadores, o resultado é positivo. “Como os alunos estão autorizados a ter o celular na mão, a pesquisa fica muito mais rápida”, diz Orsati. De acordo com ele, o rendimento em Matemática melhorou.
Seu trabalho também ficou mais fácil. Em vez de colocar o conteúdo na lousa e pedir para os estudantes copiarem, pode postar diretamente no blog. A correção de exercícios de múltipla escolha é automática, e o aplicativo ainda fornece uma estatística das questões em que houve mais erros, para que o professor reforce a explicação sobre o tema.
Os dois educadores ressaltam ainda que esse processo levou a uma aproximação entre estudantes e professores. “O aluno passa a nos encarar com outros olhos, vê que a aula não é apenas giz e lousa. Ele pensa: ‘O professor está aqui comigo no Facebook’. Esse é um ambiente
no qual ele se sente à vontade”, diz Orsati.
Hagata da Conceição Correia, de 12 anos de idade, está no 6º ano e é aluna de Oliveira. A menina afirma que “pelo celular dá mais vontade de estudar”. Na escola, diz preferir utilizar o computador, mas em casa o acesso aos conteúdos é feito pelo celular. “É diferente, porque a gente não escreve, mas digita”, explica, ao referir-se às mudanças em relação à forma tradicional
de estudo.
Para Lohani Victória Bolsanelli, de 14 anos, do 8º ano, “no computador e no celular é mais fácil aprender”. Aluna de Orsati, relata como utiliza o aplicativo: “Às vezes tenho dúvida em Matemática e vejo um vídeo. O vídeo mais a explicação do professor me ajudam bastante a entender. Gostei muito da mudança”.
Wi-fi – A Secretaria da Educação anunciou que, até outubro do ano que vem, as mais de 5 mil escolas estaduais serão equipadas com sistema wi-fi e banda larga. A novidade faz parte do plano tecnológico que irá modernizar a rede de ensino.
Oliveira e Orsati dizem que a colocação da rede de wi-fi na escola ajudará muito o trabalho que realizam. “Com o projeto, queremos que a escola ocupe o seu lugar. A escola tem que puxar o carro do conhecimento e, não, ser puxada”, diz o professor de História. Para Orsati, outro aspecto importante é a vinculação com a comunidade. “Quando expandimos as aulas, estamos levando as atividades para fora da escola. Com isso, a família pode participar da construção de
conhecimento do aluno. A ideia é trazer a comunidade, fazer com que os pais estejam na escola, ajudem nesse processo”, diz.
Cláudio Soares
Imprensa Oficial – Conteúdo Editorial
DOE – Seção I, p. IV