10 de fevereiro de 2014 | 2h 04
O Sistema Cantareira, que abastece 8,8 milhões de pessoas na Região
Metropolitana e parte da região de Campinas, atingiu ontem 19,8% da capacidade,
pior cenário desde a abertura, em 1974. Como medida de emergência, o comitê
nacional anticrise discutirá na primeira reunião, na quarta-feira, o uso do
chamado volume morto do sistema (o fundo dos reservatórios).
Especialistas no setor ouvidos pelo Estado afirmam que
abaixo dos 20%, a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp)
já terá problemas para produzir o volume de 31 mil litros de água por segundo
necessários para o abastecimento de 47% dos lares da Grande São Paulo.
“Se reduzir menos que 20% o Cantareira já terá problemas, apesar de a Sabesp
negar, e a qualidade da água será outra”, afirma o secretário executivo do
Consórcio das Bacias dos Rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí (PCJ), Francisco
Lahoz. A entidade fez um cálculo com base na quantidade de água que entra nos
reservatórios e a que sai e concluiu que, se o atual cenário permanecer, no dia
29 de abril o sistema estará zerado – restando apenas o volume morto.
Atualmente, o déficit é de 28 mil litros por segundo.
Em entrevista no fim de 2013 ao Estado, o diretor
metropolitano da Sabesp, Paulo Massatto, afirmou que o Cantareira continuaria a
transpor água entre os quatro reservatórios por gravidade até 14%. Abaixo disso,
as represas que compõem o sistema entrariam no chamado volume morto, que é a
água que fica abaixo dos túneis que as interligam. Em nota, a Sabesp informou
ontem que manterá a operação atual do sistema, mesmo abaixo de 20%.
Até 2004 o volume morto (água que não é usada para o abastecimento) era
considerado abaixo dos 20%. Na renovação da outorga para a Sabesp, esse índice
foi reduzido para 5%, segundo o especialista em hidrologia da Unicamp Antônio
Carlos Zuffo.
Bombas de sucção. Como medida de emergência, o uso do volume
morto será discutido pelo comitê anticrise formado por representantes da Agência
Nacional das Águas (ANA), Departamento de Águas e Energia Elétrica (DAEE) e dos
comitês das bacias do PCJ e do Alto Tietê (Grande São Paulo). A proposta foi
levada pela ANA à Sabesp.
A medida acresceria pelo menos mais 200 bilhões de litros de água para
abastecimento. A operação nunca foi realizada pela Sabesp e envolveria o uso de
bombas de sucção para retirar água do fundo e novas técnicas de tratamento, por
causa dos sedimentos. Além disso, se esse volume for usado, o sistema poderá
levar até dez anos para voltar a níveis normais.
O Consórcio PCJ fez um cálculo e afirma que só se chovesse mil milímetros nos
próximos dois meses os reservatórios do Cantareira voltariam a operar com 50% da
capacidade. Para se ter uma noção, em janeiro choveu apenas 87,8 mm.