Sabesp não raciona, ‘administra disponibilidade’, diz presidente
Para vereadores, Dilma Pena usou eufemismos para explicar os relatos de falta de água em SP

Segundo ela, problema atinge ‘1% ou 2%’ da população, sem caixa d’água ou que vive em área alta ou distante

ARTUR RODRIGUES
DE SÃO PAULO

A presidente da Sabesp, Dilma Pena, negou que haja racionamento na Grande São Paulo e afirmou que o que a empresa faz é “administração da disponibilidade de água”.

A declaração foi dada nesta quarta (8), durante a CPI da Sabesp, na Câmara Municipal de São Paulo.

Pressionada por vereadores sobre relatos de falta de água, Dilma valeu-se de termos classificados pelos parlamentares como eufemismos para racionamento.

Ao falar da redução da pressão durante a noite, quando crescem as queixas de interrupção, disse que pode haver “um desconforto a partir de 10, 11 horas da noite até que a pressão se regularize na manhã seguinte”.

No entanto, afirmou que o problema afeta apenas uma parcela pequena da população, que vive em áreas distantes dos reservatórios, em regiões altas ou em casas sem caixas-d’água adequadas.

A empresa costumava negar a relação entre diminuição de pressão e falta de água. Além de falar em casos pontuais, chegou a atribuir os problemas a “manobras técnicas operacionais” de transferência para o abastecimento de água do sistema Cantareira para os sistemas Guarapiranga e Alto Tietê.

“Existe sim, não nego falta de água pontual”, afirmou Dilma. “Existe, sim, uma diminuição da pressão noturna que atinge em média 1% ou 2% da população.”

Convidado à CPI, o promotor do meio ambiente José Eduardo Ismael Lutti rebateu o argumento. “Isso é mentira. A região leste da capital, Alto da Lapa, City Lapa, Vila Leopoldina até Pinheiros todas as noites não têm água”, disse.

Questionada várias vezes sobre se a redução de pressão não é uma forma de racionamento, a presidente da empresa insistiu que só seria possível usar esse termo se houvesse despressurização total da rede. Não convenceu os vereadores.

“Estamos discutindo um problema semântico. Racionamento não há”, disse o vereador Paulo Frange (PTB), que é membro da comissão. “O que tem é falta de água, que para a população é a mesma coisa.”

Ela foi criticada pelo aumento no consumo em setembro. O percentual de pessoas que atingiram o bônus para quem economiza água caiu de 51% para 49%.

Para a presidente da Sabesp, o preço da água é muito baixo para inibir parte dos consumidores com maior poder aquisitivo.

Após cerca de três horas de CPI, Dilma aceitou voltar como convidada na próxima quarta-feira (15).

Folha de S. Paulo