“Deus gostou de saber que vamos ter ‘La Bohèmme’ no Natal”, diz em tom de brincadeira o diretor artístico do Teatro Municipal de São Paulo, John Neschling, após ser interrompido por um trovão na coletiva de imprensa que anunciou, anteontem em São Paulo, a programação 2013. “Esse teatro foi construído como teatro de ópera e vamos retomar sua vocação lírica, que ficou esquecida.”
Além da produção do Teatro Real de Madri, em dezembro, a programação terá as óperas “Ça Ira”, do ex-Pink Floyd Roger Waters; “The Rake’s Progress”, de Stravinsky; “Aída”, de Verdi; “Don Giovanni”, de Mozart; “Jupyra”, de Francisco Braga, “Cavalleria Rusticana”, de Pietro Mascagni, e “O Ouro do Reno”, de Wagner.
Em todos os espetáculos, metade do elenco será brasileiro. “Não é questão de cota; é de qualidade”, diz Neschling, que dirigiu o teatro de 1989 a 1990, na gestão de Luiza Erundina, e esteve à frente da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (Osesp) de 1997 a 2009.
“É falácia achar a ópera um gênero ultrapassado. Pode ser complicado em termos de composição, mas ainda é um dos espetáculos mais populares em todo mundo”, diz. “Sou contra a ideia de que somos o ‘ministério da educação'”, afirma Neschling ao ser questionado sobre como ensinar a população a se familiarizar com o gênero.
Juca Ferreira, secretário municipal da Cultura de São Paulo, no entanto, diz que parcerias serão feitas com a rede de ensino. “Vamos desenvolver uma política cultural em torno do teatro”, diz Ferreira. “Espero que a qualidade da programação contribua para a requalificação do centro da cidade.”
Segundo Ferreira e José Luis Herência, novo diretor-geral da Fundação Teatro Municipal (criada no ano passado), o valor dos ingressos para as óperas ainda não foi definido, mas deve ser próximo dos R$ 10 a R$ 60 dos concertos. Segundo o secretário, a instituição será preparada para receber o Vale Cultura, que deve entrar em vigor entre junho e julho. No segundo semestre, o teatro dará início à venda de plano de assinaturas.
Os primeiros concertos serão realizados no sábado e domingo, quando Neschling apresentar, com a Orquestra Sinfônica Municipal, o Coral Lírico e o Coral Paulistano, peças de Wagner, Verdi e Camargo Guarnieri. Em março, o destaque é um concerto no Auditório Ibirapuera. No início de abril terão início as comemorações dos 45 anos da Balé da Cidade de São Paulo, que passa a ser dirigido por Iracity Cardoso – as mudanças ainda incluem a criação do cargo de diretor técnico (Juan Guillermo Nova).
Segundo Herência, as equipes existentes serão mantidas, mas a situação contratual dos artistas é um dos principais impasses para a nova gestão: há profissionais concursados, efetivados e aqueles que trabalham com renovação frequente de contratos temporários. Herência também aponta problemas de infraestrutura do prédio – os músicos têm apenas um banheiro para usar no intervalo das apresentações, conta.
Uma mudança deve acontecer já na semana que vem, com a inauguração do primeiro módulo da Praça das Artes – que abrigará escolas de música e dança, o departamento administrativo e o conservatório. A licitação para a finalização do segundo módulo deve ser feita neste semestre (a meta é de que o local esteja pronto no início de 2014). As obras do terceiro módulo devem ocorrer em 2014.
O teatro tem orçamento de R$ 65 milhões – cerca de 20% costumam ser destinados à programação artística. Segundo Herência, muitos espetáculos eram feitos em parceria com produtoras e incluem verba captada via Lei Rouanet. “Vamos buscar contornar esse déficit com parcerias que não venham se apropriar de uma instituição artística do modo atual, que apoiem a instituição com visão de futuro, e não pontualmente.”
Também estão nos planos a criação de um conselho deliberativo e fiscal, encomendas de obras e a transmissão dos espetáculos pela internet e salas de cinema.
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