Até então resistente à obra, governo do Rio sinaliza que seguirá as orientações da Agência Nacional de Águas
ARTUR RODRIGUES
DE SÃO PAULO
MARIANA HAUBERT
DE BRASÍLIA
A proposta do governo de São Paulo de retirar água da bacia do rio Paraíba do Sul para abastecer o sistema Cantareira ganhou aval da ANA (Agência Nacional de Águas) e, em seguida, sinalização de acordo do governo do Rio.
Essa transposição, com custo estimado de R$ 500 milhões, tinha se transformado em ponto de atrito entre os governos de SP e do Rio, já que o Paraíba do Sul abastece 10 milhões de moradores do Rio, além de outros 5 milhões entre paulistas e mineiros.
Segundo o presidente da ANA, Vicente Andreu, é “tecnicamente viável” o plano do governador Geraldo Alckmin (PSDB) de interligar as represas Jaguari, da bacia do rio Paraíba, e Atibainha, no Cantareira, sistema que vive a maior crise de sua história.
O Cantareira abastece cerca de 6,5 milhões de pessoas na Grande São Paulo e tinha ontem 11,8% de seu volume. O índice contabiliza os 10,7 pontos percentuais da segunda cota do volume morto.
Com base em dados da Sabesp, seria possível captar 5,1 m³/s com a transposição, o suficiente para abastecer 1,5 milhão de pessoas. A obra ficaria pronta em 2016.
O primeiro sinal de acordo veio na CPI da Câmara Municipal de São Paulo que discute a crise do sistema hídrico.
Na sessão, o presidente da agência federal de águas disse que a negociação em torno da transposição avançou, o que mais tarde foi confirmado pelo governador do Rio, Luiz Fernando Pezão (PMDB).
“É um rio com regulação federal. Então [temos que] seguir o que determina a legislação federal”, disse. “Claro que não vou deixar nunca o Estado do Rio de Janeiro ser prejudicado”, completou.
As declarações tanto da ANA como do governo do Rio mostram uma mudança de tom após as eleições.
Em março, o então governador do Rio, Sérgio Cabral (PMDB), chegou a afirmar que “jamais” permitiria a retirada da água “que abastece o povo fluminense”. Já a agência costumava ficar em cima do muro sobre o tema.
Na reta final da campanha, o presidente da agência provocou a ira de tucanos ao dizer que, se não chovesse, São Paulo iria tirar água do lodo.
Folha de S. Paulo