Na quinta-feira, o país exigiu produção de 83.307 megawatts, volume nunca antes registrado
LUCAS VETTORAZZO
DO RIO
Desde o racionamento do governo FHC, em 2001 e em 2002, que se diz que o horário de pico de consumo de energia no país ocorre das 18h às 20h, em razão, entre outros motivos, do aumento do uso de chuveiros elétricos nesse horário, com a chegada das pessoas as suas casas após o horário comercial tradicional.
Verões intensos e o novo perfil da economia, mais baseado no setor de serviços em detrimento do industrial, têm feito, contudo, com que esse pico de consumo de energia mude para o meio da tarde, entre as 14h30 e as 15h30.
Os oito últimos recordes de produção de energia no país ocorreram nesse intervalo, segundo o ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico). Os dois mais recentes, na quarta e na quinta-feira da semana passada, foram registrados às 15h21 e às 15h24, respectivamente.
Na quinta-feira, as usinas do país produziram 83.307 megawatts (MW), volume nunca antes registrado.
O sistema funciona assim: as distribuidoras informam ao ONS sobre o aumento de demanda e o operador avisa às usinas para produzirem mais.
REFRESCO
Segundo especialistas ouvidos pela Folha, o ar-condicionado é quem puxa o consumo de energia para cima no meio da tarde.
Calor intenso e serviços a todo vapor têm feito o uso do ar-condicionado disparar no meio da tarde em todo o país, apontam especialistas.
A partir de 28?C o corpo humano sente necessidade de se refrescar. Na quarta-feira passada, a Folha mostrou que a temperatura máxima média dos primeiros 20 dias de janeiro em São Paulo foi de 31?C, a maior desde 1943.
Em dias de temperaturas mais baixas, o pico continua sendo no horário antigo.
“As pessoas não estão em casa, mas estão no shopping, no restaurante, no escritório. E em todos esses locais o ar-condicionado está no máximo”, afirmou o professor Reinaldo Castro Souza, do departamento de Engenharia Elétrica do Centro Técnico Científico da PUC-RJ.
O chuveiro elétrico, antigo “vilão” do consumo, deu lugar ao ar-condicionado, que, ainda que a uma potência menor, fica ligado, em média, oito horas por dia nas residências. No comércio, essa média sobe para dez horas.
Pelos cálculos de Souza, 80% do consumo de energia do setor é com refrigeração.
Os dados da EPE (Empresa de Pesquisa Energética) mostram que até novembro de 2013 o crescimento do consumo de energia do comércio e serviços ficou acima da média brasileira.
A estimativa da EPE é que o consumo comercial em 2014 supere o dos setores residencial, industrial e da média do país, com alta de 4,4%.
“Além do calor, há a mudança da participação dos serviços na economia. O padrão de consumo tem sido alterado também em razão disso”, afirmou a ex-diretora da Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) Joísa Campanher Dutra.
De 2004 a 2012, o setor de serviços elevou sua participação relativa no PIB em 5,7 pontos percentuais, de 63% para 68,7%.
Folha de S. Paulo