A previsão de chuvas e possibilidade de alagamentos na Região Metropolitana de São Paulo (RMSP) será aprimorada. Foi inaugurado oficialmente na terça-feira, 14, no Parque CienTec, zona sul da capital, um radar meteorológico Doppler banda X de dupla polarização. Essa tecnologia, de alta resolução, é considerada a mais avançada para o monitoramento de chuvas.
A moderna aquisição é fruto de parceria entre o governo da França, que fez a doação do radar, e a Universidade de São Paulo (USP). Entre os órgãos da universidade que participam do projeto estão a Escola Politécnica (Poli) e o Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG). A responsável pela infraestrutura para a instalação do radar e por sua operação é a Fundação Centro Tecnológico de Hidráulica (FCTH), ligada ao Departamento de Engenharia Hidráulica da Poli.
“O novo radar meteorológico vai complementar o trabalho com o radar que operamos há anos, que é banda S. Esse é banda X. O banda S tem raio de 150 quilômetros de circunferência e já identifica chuvas com boa resolução. O atual atinge área menor, com raio de 60 quilômetros, porém, é mais preciso”, explica o presidente da FCTH, Mario Thadeu Leme de Barros, que também é professor da Poli e um dos coordenadores do projeto. “Ele permite identificar, em tempo real, chuvas em áreas muito pequenas, bairros, quarteirões ou ruas.”
Tesouro – A inovação irá melhorar as previsões de chuva em curtíssimo prazo, ou seja, “pode indicar quantos milímetros choverá na próxima hora, ou até na próxima meia hora, dependendo da situação”, diz Barros. O equipamento permite também calcular rajadas de vento com mais precisão e identificar a formação de tempestades elétricas, fenômenos que costumam gerar problemas na vida da cidade. Na cerimônia de apresentação do radar, o professor Carlos Augusto Morales, do IAG, também coordenador da iniciativa, afirmou que o aparelho “mede a forma da chuva com nível de detalhamento muito maior e possibilita ver quais regiões da cidade estão alagadas ou podem vir a alagar”. Ele lembrou que São Paulo tinha três radares meteorológicos, agora tem o quarto. Segundo o professor, isso ocorre em poucos lugares do mundo.
O cônsul-geral da França em São Paulo, Damien Loras, informa que o financiamento do governo francês ao projeto foi de 700 mil euros, equivalentes a R$ 2,9 milhões. O radar foi construído pela empresa francesa Novimet. “Esse pequeno radar é um tesouro de tecnologia que vai colaborar para o bem-estar da população de São Paulo”, diz Loras. “É um radar de banda X, mais ágil, fácil de instalar e mais barato. Será muito útil na gestão de riscos”, completa.
Em seu discurso, o vice-reitor da USP, Vahan Agopyan, avaliou que o novo equipamento irá colaborar para que a universidade realize plenamente sua missão: “São poucas as iniciativas que atendem tão bem ao ensino, à pesquisa e, principalmente, à extensão, com a assistência à população”, disse.
Integração – Instalado na cabeceira do Córrego do Ipiranga – local considerado estratégico para monitorar a cidade e seus arredores –, o radar cobrirá boa parte da RMSP. O professor Barros ressalta a importância da nova tecnologia para aprimorar e complementar as previsões realizadas pelo radar meteorológico Doppler banda S, na barragem de Ponte Nova, localizada na cabeceira do Rio Tietê. “Com a integração de ambos, os modelos de previsão de cheias e de inundações na cidade serão otimizados, proporcionando aumento da eficácia do sistema de alerta”, argumenta.
O equipamento será incorporado também aos sistemas de alerta em operação na RMSP, com destaque para o Centro de Gerenciamento de Emergências (CGE) da Prefeitura Municipal de São Paulo, a Central de Alerta do Departamento de Águas e Energia Elétrica do Estado de São Paulo (DAEE) e o Sistema de Alerta da Defesa Civil do Estado de São Paulo.
Presente à cerimônia de lançamento, o major da Polícia Militar (PM) Marcos de Paula Barreto, subdiretor estadual da Defesa Civil, destacou: (o radar) “vai auxiliar muito no monitoramento e nas previsões”. De acordo com o major PM, a inovação será importante “para que a Defesa Civil possa enviar alertas aos municípios paulistas e os órgãos do sistema de defesa civil consigam se programar para eventual resposta” em caso de chuvas fortes com risco de inundações.
Escola – Os coordenadores do projeto enfatizam ainda que a continuidade do trabalho abrange a formação de mão de obra para operar os equipamentos. “Como essas redes estão em expansão, precisamos de mão de obra. É uma atividade estratégica para o futuro dessa área no País”, afirma Barros. “Queremos montar cursos técnicos de operadores”, complementa.
O professor Morales, em sua apresentação, lembrou que “o Brasil tem 40 radares meteorológicos, mas não existem muitas pessoas aptas a operá-los”. A expectativa dos docentes é avançar para a criação da “primeira escola de radar meteorológico da América do Sul”, diz.
DOE, Executivo I, 16/06/2016, p. I