Estudo realizado pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), abrangendo 15.105 pessoas residentes em Belo Horizonte, Porto Alegre, Rio de Janeiro, São Paulo, Salvador e Vitória, revela que 66% delas apresentam colesterol elevado. O Estudo Longitudinal de Saúde do Adulto (Elsa Brasil), divulgado ao Ministério da Saúde no ano passado, também indicou que o mesmo porcentual de entrevistados tem obesidade ou sobrepeso; 33% são hipertensos; e 20%, diabéticos.
O excesso de colesterol forma placas de gordura na parede das artérias, o que dificulta o fluxo sanguíneo ou obstrui a passagem do sangue, podendo ocasionar infarto ou derrame.
“Colesterol alto é uma doença assintomática, ou seja não manifesta sintomas. Quando há ocorrência de dor no peito e falta de ar, por exemplo, é provável ser indício de doença cardiovascular grave, e resultar em infarto ou derrame”, alerta a cardiologista Viviane Zorzanelli Rocha, do Instituto do Coração (Incor), ligado ao Hospital das Clínicas (HC) da FMUSP.
Por esse motivo, a médica recomenda que adultos jovens, a partir de 20 anos, adquiram o hábito de solicitar, anualmente ao médico, o hemograma completo para análise dos níveis de colesterol. “Se houver histórico familiar de colesterol elevado, a chamada hipercolesterolemia familiar (HF), os descendentes devem iniciar o exame ainda na infância”, frisa.
Gordura – O colesterol alto é um dos fatores dos males cardiovasculares, principais responsáveis pelos óbitos registrados anualmente no Brasil. De acordo com o Ministério da Saúde, no ano de 2014 doenças desse tipo foram responsáveis por 29,4% de todas as mortes notificadas no País. Isso significa que mais de 308 mil pessoas morreram por causa de infarto e acidente vascular cerebral (AVC).
O colesterol elevado é ocasionado por alimentação rica em gordura saturada (excesso de carne vermelha, frituras, doces em geral e chocolates). A falta de atividade física regular e a obesidade também colaboram para a elevação do colesterol.
“Historicamente, estudos europeus indicavam que a HF atingia um indivíduo a cada grupo de 500 pessoas no mundo. Atualmente, o número saltou para um a cada 200. O problema tem sido detectado com mais frequência graças à modernização de técnicas diagnósticas”, observa a especialista do Incor.
Em pessoas que não adotam hábitos saudáveis desde a infância, as placas de gordura nas artérias podem se formar ainda na adolescência e aumentarem ao longo da vida. “A hipertensão, o tabagismo e a diabetes aceleram o aumento do colesterol e podem antecipar a ocorrência de uma doença cardiovascular”, avisa.
Nova rotina – A cardiologista diz que a maioria das pessoas saudáveis (sem episódios anteriores de doenças cardiovasculares ou crônicas) consegue reduzir o colesterol alto sem precisar de medicação, se forem feitas mudanças no cardápio alimentar (aderir a cereais, vegetais, legumes, frutas, peixe, frango e leite desnatado) e adotada a prática regular de atividade física e outras condutas (ver boxe).
“Mas não existe milagre. Não adianta mudar o estilo de vida por um tempo, emagrecer, obter os níveis normais de colesterol e depois retomar os hábitos inadequados. Dessa forma, o colesterol eleva-se novamente”, prevê. O ideal é que os novos comportamentos sejam incorporados à rotina pelo resto da vida.
Comer porções fracionadas, a cada 3 ou 4 horas, e preferir a escada ao elevador também são comportamentos saudáveis que fazem diferença.
Nos casos em que é necessário o controle do colesterol alto com o uso de medicação, Viviane diz que o remédio – à base de estatina – está disponível no sistema único de saúde (SUS) e é distribuído gratuitamente à população, conforme recomendação médica. “É um produto seguro e muito eficaz na redução dos níveis de colesterol. A maioria dos pacientes deverá tomá-lo por toda a vida”, informa.
DOE, Executivo I, 12/08/2016, p. IV