O Estado de São Paulo registra todo ano 22 mil pessoas desaparecidas, entre as quais cerca de nove mil crianças e adolescentes. Neste ano, até abril, foram registrados 3.529 desaparecimentos de jovens até 18 anos – 2.766 dos quais foram localizados.
Esses números foram destacados ontem, no Palácio dos Bandeirantes, durante o anúncio pelo Governo do Estado várias ações que têm como meta a prevenção e a redução dessas ocorrências. Uma parceria entre as secretarias estaduais da Segurança, Saúde, Justiça e Defesa da Cidadania, Educação, dos Direitos da Pessoa com Deficiência, Esportes, Lazer e Juventude e do Desenvolvimento Social deu origem ao programa São Paulo em Busca das Crianças e Adolescentes Desaparecidos.
Com ações de várias secretarias, Governo paulista lança programa que passa a utilizar tecnologia inédita de progressão de idade em 3D
A data do seu lançamento foi especialmente escolhida, já que 25 de maio é o Dia Internacional da Criança Desaparecida. Na ocasião, foi assinado decreto que institui o Dia Estadual da Criança e Adolescente Desaparecidos e estabelece a obrigatoriedade da identificação, por fotografia digitalizada, de todas as crianças e adolescentes, de até 18 anos, nas matrículas em instituições de ensino e saúde, no atendimento em outros órgãos e na obtenção de isenção de
transporte público.
A iniciativa abrange ainda o reforço das parcerias com ONGs e entidades civis que dão apoio às famílias dos desaparecidos. Para tal, foi criada uma Comissão Multidisciplinar, que vai discutir permanentemente as questões relacionadas ao tema.
Um exemplo de participação é o Projeto Caminho de Volta, da Universidade de São Paulo. Criado na Faculdade de Medicina em 2004, utiliza tecnologia de ponta em pesquisas em torno do objetivo de prevenção e busca, presta atendimento e fornece apoio psicológico para o acompanhamento das famílias, além de gerar um banco de dados, em conjunto com a polícia.
A responsável, Gilka Mattás, informa que o novo programa vai possibilitar a expansão do Caminho de Volta e a concretização de um banco de DNA para a identificação das pessoas. Com ele, no caso de alguém ser encontrado, será possível buscar parentes cadastrados e fazer o devido vínculo.
Todos de olho – De acordo com o diretor do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa, Jorge Carrasco, a principal causa dos desaparecimentos entre os jovens é o desajuste familiar, o que dirige o foco para a importância do cuidado para se evitar uma ocorrência. “É fundamental que os pais ou responsáveis acompanhem atentamente o que se passa com seus filhos”, avisa.
Nesse intuito, ampla campanha pela prevenção também foi deflagrada: em mais de cinco mil escolas houve a leitura de textos de alerta e orientação sobre o problema. Especialistas em segurança e pedagogia elaboraram as mensagens em duas linguagens diferentes, para as faixas etárias de 6 a 10 anos e 11 a 14 anos.
As orientações também fazem parte de fôlderes e cartazes a serem distribuídos e afixados em locais de grande movimento, como estações de Metrô, trens, delegacias, unidades do Bom Prato, escolas públicas, Etecs, Fatecs, entre outros.
Integram ainda a campanha a capacitação de profissionais do Centro de Controle Operacional do Metrô e a realização de seminários para a identificação e prevenção de ocorrências do tipo, assim como o convênio com empresas para a divulgação em massa de fotografias de desaparecidos.
Tecnologia de busca – A Secretaria da Segurança Pública apresentou, durante o evento, uma ferramenta pioneira e o principal recurso para a busca de desaparecidos. Trata-se da tecnologia de progressão de idade em 3D, que projeta a mudança fisionômica da pessoa desaparecida, conforme o tempo decorrido, numa imagem em alta definição e tridimensional.
Na demonstração pode ser conhecida a provável aparência atual de Fabiana Renata, que desapareceu aos 13 anos. Abrangeu a transformação de sua fisionomia a partir de fotografias aos três, cinco, sete e 13 anos (veja texto na última página).
O titular da 4ª Delegacia de Investigações sobre Pessoas Desaparecidas, Sérgio Marino, ressalta a importância dos resultados que instrumentos como esse podem garantir num contexto como o que o programa projeta para São Paulo.
“Todas essas ações darão muita visibilidade ao problema e suporte para combatê-lo”, avalia. Segundo ele, é grande o índice de reincidentes entre as ocorrências, o que demonstra a necessidade de iniciativas em várias frentes.
“São fundamentais o apoio psicológico das famílias e a conscientização”, afirma.
O combate à falsa ideia de que é necessário esperar 24 ou 48 horas para o registro de um boletim de ocorrência é outro ponto importante, segundo o delegado. As buscas devem ser iniciadas tão logo seja constatado o desaparecimento e a demora só atrapalha o trabalho da polícia.
Simone de Marco
Da Agência Imprensa Oficial
Criança atenta, criança esperta
Os colegas Rafael Costa, Vinícius Vale e João Vítor da Silva, alunos do 5º ano da Escola Estadual Governador Miguel Arraes, de Paraisópolis, acompanharam o lançamento do programa com grande interesse.
“O professor também conversou com a gente sobre o assunto antes de vir para cá.
Acho que é muito bom receber informações sobre isso”, afirmou Rafael, de 11 anos, que já
sabe a profissão que pretende seguir. “Quero ser arquiteto, como meu irmão”.
Os três contam receber orientações dos pais para não falar com estranhos na rua e ir para casa direto depois da escola. No computador, dizem se interessar apenas pelo videogame.
“Mas eu sei que a gente tem que tomar cuidado com vírus e com namoro pela internet”, avisa
Vinícius, que também tem 11 anos.
Com o sonho de ser jogador de futebol, assim como Vinícius, João diz que não tem medo de andar sozinho na rua, mas que toma cuidado. “Só falo com quem eu conheço”, afirma.
Fonte: DOE, 26/05/2012
Obs: O decreto a que o artigo se refere é Dec 58.074, de 25/05/2012