A História nunca sai dos trilhos

Os passageiros que,
apressadamente, utilizam as linhas da Companhia Paulista de Trens
Metropolitanos (CPTM), muitas vezes não percebem que algumas estações não estão
apenas repletas de gente. Muitas estão repletas de história. Do Estado de São
Paulo e do Brasil. Lugar de chegadas e partidas, de sonhos que nascem ou
morrem, algumas dessas estações surgiram com a produção cafeeira e ainda
guardam nas suas instalações pedaços de um passado que nem todos conhecem. Por
isso mesmo, estão tombadas e preservadas. São 11 as estações tombadas pelo
Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico
do Estado de São Paulo (Condephaat), e que ainda estão em plena operação.

A CPTM herdou
o patrimônio da antiga São Paulo Railway (SPR), primeira ferrovia paulista,
aberta em 1867. Ela impulsionou o desenvolvimento de São Paulo a partir da
metade do século 19, quando o café passou a ser escoado para o Porto de Santos e
tornou-se o principal produto de exportação do Brasil.

As estações
tombadas estão entre as últimas que mantiveram a arquitetura original da
segunda metade do século 19, trazida pelos ingleses da SPR. Embora esteja em
pleno processo de modernização, a CPTM vem mantendo o compromisso de zelar pelo
seu patrimônio histórico. “Para isso, a Companhia trabalha para garantir as
condições de uso desses espaços, mediante manutenção periódica, e sempre de acordo
com as diretrizes dos órgãos de preservação. Além disso, algumas dessas
estações, como Luz e Brás, passaram por restauro”, explica Moyses Lavander,
autor do livro SPR: Memórias de uma Inglesa, escrito em parceria com Paulo
Mendes. Vale a pena conhecê-las:

Estação Rio
Grande da Serra (Linha 10-Turquesa) – Inaugurada, em 16 de fevereiro de 1867,
com o nome de Rio Grande, foi construída de pau a pique e plataforma não ladrilhada.
Na época, era uma estação intermediária para alimentação de água das
locomotivas e cruzamentos de trens. Seu nome foi alterado para Rio Grande da
Serra em 1964, quando da emancipação do município. Essa estação mantém as
características do início do século 20. Funciona hoje como estação terminal da
linha 10.

Estação
Ribeirão Pires (Linha 10-Turquesa) – A Estação de Ribeirão Pires foi aberta em
1885. Em torno dela criou-se, em 1887, a Colônia dos Imigrantes Italianos. A
vila cresceu bastante, tornando-se município em 1953. Assim como a de Rio
Grande da Serra, a Estação de Ribeirão Pires preserva as características do
início do século.

Estação
Caieiras (Linha 7-Rubi) – Em 1877, o coronel Rodovalho, proprietário da Fazenda
Bonsucesso, onde criava gado e produzia vinhos a partir de uvas de suas plantações,
construiu dois fornos de barranco para a produção de cal, e passou a levá-los em
lombo de mula para a Estação de Perus da SPR. No mesmo ano, fundou a Companhia Cantareira
de Águas e Esgotos, para explorar seus recursos de Caieiras, nome rapidamente difundido
a partir dos fornos de cal (que existem até hoje, ao lado da rodovia Bandeirantes).
Foi o crescimento de Caieiras e o prestígio de Rodovalho e seus sócios ingleses
que conquistaram para o local uma parada de trens, aberta em julho de 1883.

Ainda hoje
existem uma locomotiva e um vagão da velha ferrovia, construída para atender à
Fazenda Bonsucesso e à Cia. Melhoramentos no Museu da Melhoramentos. Em 1897
aparecem os projetos para a construção da estação definitiva de Caieiras. A
cidade cresceu e tornou-se município.

Estação
Jundiaí (Linha 7-Rubi) – A cidade de Jundiaí teve o seu crescimento acelerado a
partir de sua ligação por via férrea com São Paulo, a partir de 1867. Ali
passaram a chegar todas as cargas do interior para canalizar seu transporte
para o porto, primeiro em lombo de burros e, a partir de 1872, com a construção
da Companhia Paulista e da Companhia Ytuana, por via férrea. A Paulista também
construiu, um quilômetro à frente da estação terminal da SPR, os seus
escritórios e oficinas. Até 1970, a linha da Ituana, pertencente então à
Sorocabana, que a encampou em 1905, saía dessa estação em direção a Itu,
Mairinque e Piracicaba.

Estação Franco
da Rocha (Linha 7-Rubi) – É a antiga Juquery, inaugurada em 1º de fevereiro de
1888. Em 1934, teve o nome alterado de Juquery para Franco da Rocha, médico
idealizador do hospital da cidade, no mesmo ano em que o local se tornou um
distrito do município de Juqueri. Em 1938, o distrito separou-se de Juqueri,
que, hoje, leva o nome de Mairiporã. A CPTM atua ali desde 1994.

Estação Perus
(Linha 7-Rubi) – Inaugurada em 16 de fevereiro de 1867, a Estação de Perus foi
aberta no mesmo ano em que a estrada de ferro começou a funcionar. Seu prédio é
um dos poucos que se mantiveram como a Estação original, tendo sofrido algumas
modificações durante seus quase 140 anos de idade. Hoje está situada num dos
bairros mais populosos da capital paulista.

Estação
Jaraguá (Linha 7-Rubi) – A estação foi aberta em 1891 com o nome de Taipas, e
era conhecida como Parada de Taipas. Em meados dos anos 1940, teve o nome
alterado para Jaraguá, que era o nome de um posto telegráfico situado um
quilômetro antes, sentido São Paulo-Jundiaí. O prédio mantém as características
originais .

Estação Várzea
Paulista (Linha 7-Rubi) – A Várzea teve sua estação aberta em 1891, na área
rural de Jundiaí. A seu lado, mais tarde, se instalou a empresa L. Queiroz, de
produtos químicos (hoje Elekeiroz). Por algum tempo, nos anos 1950, recebeu o
nome de Secundino Veiga. Depois, passou a se chamar Várzea Paulista.

Estação Brás
(Linha 11-Coral) – A Estação do Brás foi inaugurada em 1867, com a linha, para
atender ao bairro do mesmo nome. É anterior à Estação Roosevelt, também chamada
originalmente de Braz, na linha da Central do Brasil, aliás, seu ponto
terminal. As linhas da SPR e da Central se juntavam ali. Em 1978, foi aberta a
Estação Brás (agora com esse) do Metrô, próxima às duas, e aos poucos as três
estações foram se fundindo. Hoje a estação é integrada com a Estação Brás do
Metrô. O prédio da Estação Brás da antiga SPR, que hoje pertence à CPTM, está tombado
pelo Condephaat.

Estação Júlio
Prestes (Linha 8-Diamante) – “Em 1920, os relatórios da Sorocabana alertavam
para a necessidade de um novo prédio. Projetado pelo arquiteto Christiano das
Neves, a construção foi iniciada em 1926 e inaugurada em 15 de outubro de
1938”, explica Lavander, autor do livro SPR: Memórias de uma Inglesa.

Em 1930, com a
conclusão da área das plataformas, o embarque passou a ser feito na estação
ainda longe de ser acabada, desativando a Estação de 1914, ao seu lado. A inauguração,
oficializada no dia 13 de maio daquele ano (1930), contou com a presença do
então presidente (governador) do estado, Júlio Prestes, que daria seu nome à
Estação, 21 anos depois.

Antes de
funcionar como estação da CPTM, a Estação Júlio Prestes atendia à operação de trens
de passageiros de longa distância, serviço desativado em 1988, quando os trens
da antiga Sorocabana foram transferidos para a estação nova da Barra Funda,
aberta em 1951.

Os seus
escritórios, depois de abrigarem por anos a sede da Sorocabana e da Fepasa, tornaram-se
em 1997 sede da Secretaria de Estado da Cultura.

Em 1999,
depois de uma reforma de dois anos, viu nascer a Sala São Paulo, com 1.509 lugares
e 1.000 m2, para abrigar a Orquestra Sinfônica de São Paulo (Osesp).

Maria Lúcia
Zanelli

Da Agência
Imprensa Oficial

 

 

CARTÃO-POSTAL
DA CIDADE

 

Localizada nas
linhas 7 e 11, a Estação da Luz foi construída para integrar a São Paulo
Railway, ferrovia fundada por Irineu Evangelista de Souza (Barão de Mauá) e
dois associados – José Pimenta Bueno (Visconde de São Vicente) e José da Costa
Carvalho (Marquês de Monte Alegre) para escoar a cultura cafeeira, que na época
era feita do porto de Santos para o do Rio de Janeiro. Em 1860, teve início a
construção da via férrea e, sete anos depois, as obras de 139 quilômetros de
extensão foram concluídas a um custo que chegou a 2 milhões de libras
esterlinas.

A primeira
unidade da Luz ocupava uma edificação acanhada e era chamada Estação São Paulo.
Só a partir de 1901, data de inauguração do prédio atual, é que foi “batizada”
oficialmente com o nome atual. Construída em frente ao edifício anterior, a Luz
teve seu projeto criado por Charles Henry Driver. A maior parte do material usado
na sua construção foi importada da Inglaterra e, por isso, a ferrovia ficou conhecida
como “Ingleza”. Itens como tijolos, madeira (pinho-de-riga originário da Irlanda),
telhas, cerâmicas e as estruturas de aço mantêm, ainda hoje, uma arquitetura engenhosa
e inconfundível.

Em 1946, um
incêndio afetou grande parte do edifício. Durante as obras de recuperação, foi
construído um novo andar que manteve o mesmo estilo da fachada. Hoje, mais de
cem anos depois da inauguração, a Luz ainda é considerada marco da riqueza do café
e um dos mais importantes monumentos arquitetônicos de São Paulo.

Entre 2002 e
2005, a unidade foi restaurada. Todos os aspectos estruturais e históricos do
edifício foram renovados. Foi construída uma passagem subterrânea para ligação com
o Metrô (Linha 1-Azul e 4-Amarela). A medida facilita a transferência entre os sistemas,
sem custo adicional, permitindo viagens mais seguras e confortáveis.

A Estação da
Luz está próxima a diversas atrações culturais da cidade, como a Pinacoteca, o
Museu de Arte Sacra, e a Sala São Paulo, além do Museu da Língua Portuguesa, situado
na própria Estação.

 

 

ASCENSÃO E
QUEDA DA ELEGANTE INGLEZA

A mostra A
Ingleza e o Inglês, exibida nas estações da Luz e do Brás, ganhou um novo
destino. A partir do dia 17, a Estação de Paranapiacaba da CPTM terá como
cenário os painéis que contam a história de uma das mais importantes ferrovias
do País, a São Paulo Railway. Um dos destaques da mostra são os painéis que se
referem à tecnologia da época e aos desafios enfrentados na construção principalmente
na Serra do Mar, a caminho de Santos, importante via de exportação e de chegada
à capital paulista. A exposição traz parte do acervo do inglês Charles Robert Mayo,
mostrando o auge da Estrada de Ferro Santos-Jundiaí e sua decadência já nas
primeiras décadas do século 20.

 

SERVIÇO

Mostra “A
Ingleza e o Inglês – Charles Robert Mayo e a São Paulo Railway”

Salão do Clube
Lyra Serrano. Av. Antonio Olyntho s/n° – Vila de Paranapiacaba – Santo André

DOE, Seção I, 20/08/2013, pp. II-III