Alckmin reduz água captada para conter crise em represa
Governo acata determinação de baixar em 10% volume retirado do Cantareira

Medida é sintoma da crise que pode levar a racionamento; água também será realocada de outros reservatórios

EDUARDO GERAQUE
DANIELA LIMA
DE SÃO PAULO

O governador Geraldo Alckmin (PSDB) anunciou ontem que vai acatar a determinação de reduzir em 10% a quantidade de água captada do sistema Cantareira.

A retirada de água desse reservatório vai diminuir já a partir da próxima segunda, para atenuar a seca que pode resultar em racionamento.

A represa está com só 16% de sua capacidade, mais baixo volume já registrado.

Isso não significa prejuízo imediato no fornecimento de água para casas atendidas pelo Cantareira –15 milhões de pessoas na Grande SP e interior. Mas, na prática, é um sintoma da gravidade da crise.

Na capital, os riscos de um eventual racionamento nos próximos meses atingem toda a zona norte e partes do centro, zonas oeste, leste e sul. No interior, as regiões de Campinas e Piracicaba.

Alckmin também anunciou ontem um remanejamento no sistema de abastecimento para atenuar a situação. Duas regiões, com 1,6 milhão de pessoas, deixarão de receber água do Cantareira e passarão a ser abastecidas pelo Guarapiranga (zona sul) e pelo Alto Tietê (leste).

A medida, porém, tem alcance limitado — atende menos de 20% da população servida pelo sistema na Grande SP, até porque não há tubulações interligadas nos reservatórios para atender a todos.

Além disso, a própria Sabesp já divulgava remanejamentos desse tipo –embora sem detalhes– desde fevereiro, numa ação que é bem-vista por técnicos, embora considerada só um paliativo.

O anúncio feito ontem pela gestão tucana ocorre após a Folha ter revelado, na semana passada, a decisão técnica tomada em conjunto pela ANA (agência federal) e pelo DAEE (órgão estadual) para reduzir a quantidade de água captada do Cantareira.

Em vez dos atuais 31 mil litros por segundo, a Sabesp deverá usar só 27,9 mil litros.

Com as novas medidas, Alckmin voltou a descartar uma restrição imediata no fornecimento de água à população. “Não, [o racionamento] não começou”, disse.

“Nós temos sete sistemas de abastecimento e o baixo nível do Cantareira é específico. Não é um problema geral.” A existência de represas com maior volume de água, porém, não basta para suprir toda a população atendida pelo Cantareira –devido à falta de interligação dos sistemas.

Segundo simulações feitas por especialistas, se a seca continuar, a água do Cantareira acaba em agosto. Campinas também vai receber menos água do Cantareira –redução ainda maior, de 25%.

Colaboraram FABRÍCIO LOBEL, de São Paulo e LUCAS SAMPAIO, de Campinas

Folha de S. Paulo