Antes da decisão americana, presidente Dilma Rousseff afirmou que país nunca esteve tão preparado
JOANA CUNHA
DE NOVA YORK
O Fed (BC americano) deu o primeiro passo para reduzir sua política iniciada no fim de 2012 para tirar a economia dos EUA do buraco. A diminuição da ajuda –que provocou turbulências no Brasil e em outros emergentes desde que foi sinalizada, em maio– foi recebida ontem com alívio pelos mercados financeiros.
Até há poucas semanas, a redução dos estímulos era esperada com preocupação porque poderia provocar uma desvalorização generalizada nas moedas emergentes, mas, ao menos ontem, o corte de US$ 10 bilhões a partir do mês vem nas compras de títulos, para US$ 75 bilhões, foi visto como moderado.
Além disso, foi interpretado como um sinal de confiança do Fed na recuperação da maior economia global.
As Bolsas americanas tiveram valorização. O índice Dow Jones, o principal de Nova York, subiu 1,84%. As Bolsas asiáticas se valorizaram no início das operações –Tóquio abriu em alta de 1,5%.
No Brasil, a Bovespa já estava no fim das operações no momento do anúncio do Fed e subiu 0,94%.
No início da noite de ontem, poucas horas após a decisão americana, o Banco Central anunciou que vai reduzir de US$ 3 bilhões para US$ 1 bilhão o seu programa de oferta de moeda americana que tinha como objetivo segurar a cotação do dólar.
Os leilões começaram em 22 agosto. À época o real era a moeda emergente que mais perdia ante o dólar, com queda de 15,8%, desde que Ben Bernanke, presidente do Fed, indicou, em 22 maio, que os estímulos seriam reduzidos.
A partir da ação do BC, o real subiu 3,7% e é, entre as divisas emergentes, a quarta que mais se valorizou. Ontem, a moeda subiu 0,93%, a R$ 2,343, mas o mercado estava fechado no momento da decisão do Fed.
A redução do valor dos leilões do Banco Central indica que o organismo aponta que o mercado não vai reagir com nervosismo à medida.
“O Brasil nunca esteve tão preparado”, disse a presidente Dilma Rousseff na manhã de ontem, antes da ação do Fed. A presidente disse que antes um “espirro nos EUA” virava “pneumonia no Brasil”, mas que isso mudou.
RITMO
A decisão do Fed de fazer o corte em um ritmo lento se deve ao mercado de trabalho. Apesar de o desemprego ter caído de 7,8%, em setembro de 2012 (quando o estímulo teve início), para os atuais 7%, há problemas como o excesso de pessoal que está fora do mercado de trabalho.
“Nossa redução modesta reflete a crença que o progresso em direção aos nossos objetivos econômicos será sustentado”, disse Bernanke.
Os juros, que hoje estão em uma banda de zero a 0,25% ao ano, só devem voltar a subir no fim de 2015. O Fed ainda reforça que as taxas de juros continuarão em torno de zero enquanto o desemprego permanecer acima de 6,5%.
Para o Brasil, esse ritmo lento acalmou analistas, que acreditam que não haverá uma fuga em massa de investidores, com o fim da “era do dinheiro barato”, como ficou conhecido esse período.
Folha de S. Paulo