Com poucas chuvas, SP tem ar com a pior qualidade em 7 anos
Baixa umidade e massa de ar quente também deixam nível de poluentes acima do considerado saudável

Governo do Estado afirma que poluição na Grande São Paulo é a pior apenas dos últimos três anos

EDUARDO GERAQUE
DE SÃO PAULO

Falta de chuvas, baixa umidade e estagnação da massa de ar quente sobre o Estado contribuíram para que o morador da Grande São Paulo respirasse neste ano o ar de pior qualidade desde 2007.

Até outubro, nas 23 estações medidoras, o poluente “poeira fina” (aquele que afeta narinas, garganta e pulmão) fez 1.325 ultrapassagens nos limites considerados saudáveis pela OMS (Organização Mundial da Saúde).

A cada dia é possível somente uma ultrapassagem desse limite. Considerando as várias estações, isso ocorreu 1.478 vezes em 2007.

A frequência registrada indica que os níveis aceitáveis de qualidade do ar foram ultrapassados ao mesmo tempo em diversas áreas da Grande SP. Esse tipo de situação pode voltar a ocorrer já nas próximas semanas, quando a previsão meteorológica indica pouca chuva na região.

O levantamento da Folha que aponta esse recorde desde 2007 foi feito com base em dados da Cetesb, agência ambiental do Estado, e considera como nota de corte o padrão mais rígido para o poluente “poeira fina”, previsto na legislação estadual mas ainda não implementado.

A lei, no caso da poeira, estabelece quatro limites, que devem ser atingidos aos poucos. Oficialmente, esse degrau mais alto na escala da poluição não é o usado pelo governo Geraldo Alckmin (PSDB), uma vez que a legislação o menciona como meta a ser atingida, mas sem data definida para isso.

Essa situação é motivo de crítica de especialistas, já que, na prática, os dados anunciados pela Cetesb indicam situação menos grave.

Mesmo assim, os níveis de poeira em São Paulo, em médias anuais, são cerca de 70% menores do que os registrados em Pequim, na China.

METODOLOGIA

A agência ambiental paulista afirma ser “prematura” a abordagem da reportagem.

Ela adota outra metodologia, pela qual a qualidade do ar de 2014 é a pior apenas dos últimos três anos. O cálculo da Cetesb se baseia só em parte das estações medidoras.

A agência afirma ainda que a rede de monitoramento dos poluentes (número e localização das estações) sofreu mudanças ao longo dos anos.

Para Nelson Gouveia, da USP, especialista em estudos da poluição do ar, a poeira é um dos piores poluentes existentes hoje em São Paulo e se estabiliza em patamar alto.

O fato de não existir previsão de quando os índices mais rigorosos serão implementados também preocupa.

“A OMS já está planejando fazer novas revisões nos seus valores guias”, diz ele.

“De fato, 2014 não é um bom ano para a qualidade do ar”, afirma Paulo Saldiva, pesquisador da USP. Para ele, o tempo seco aumentou a “gravidade” da poluição.

Folha de S. Paulo