Conheça 9 escritores cotados para o Nobel de Literatura


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Por Amarílis Lage | Valor




DE SÃO PAULO – O anúncio do Nobel de Medicina na segunda, 8/10, marcou o início de uma semana de anúncios e especulações. Nesta terça, foi divulgado o Nobel de Física (entregue a Serge Haroche e David J. Wineland); na quarta, será a vez do de Química. O de Literatura está previsto para quinta, e o da Paz, para sexta. O Nobel de Economia encerra a temporada de prêmios na segunda, 15/10.


Ainda que os resultados sejam imprevisíveis, é interessante acompanhar as especulações – elas levam, no mínimo, a uma boa lista de nomes que vale a pena conhecer, como a que pode ser conferida abaixo, feita a partir do site de apostas Landbrokers.




Divulgação
Haruki Murakami



O nome mais bem cotado é o do japonês Haruki Murakami (3 para 1), autor de livros como “Minha Querida Sputinik” e “Norweegian Wood”. Seu romance mais recente, “1Q84”, será lançado em breve no Brasil pela Alfaguara. A obra apresenta uma assassina profissional que, depois de passar por uma escada de emergência, entra em um mundo sutilmente distinto daquele em que vivia. Paralelamente, há a história de Tengo, um aspirante a escritor que aceita ser o ghost writer de uma menina de 17 anos e, aos poucos, observa semelhanças intrigantes entre o texto dela e a realidade. Ao longo das 432 páginas, as trajetórias dos personagens se aproximam. É possível ler um trecho do livro no site da editora.


Em seguida, está o húngaro Péter Nádas (3,5 para 1), cujo livro mais recente, “Parallel Stories”, também surpreende pela extensão: a edição lançada em dezembro nos Estados Unidos tem 1.133 páginas. Escrito ao longo de 18 anos, “Parallel Stories” começa com a queda do muro de Berlim, em 1989, e apresenta uma história fragmentada, não linear, que vai de experimentos realizados por nazistas a digressões sobre arte e sexo. O livro foi saudado como o “Guerra e Paz” do século XXI, numa referência à obra-prima de Tolstoi. Nádas, que também já foi comparado a Proust e Thomas Mann devido a seu livro “The Book of Memories”, de 1986, recebeu o prêmio Kafka em 2003. Um ano antes, Imre Kertész, autor de “Sem Destino” (1975), se tornou o primeiro (e, por enquanto, único) húngaro a receber o Nobel de Literatura.


A lista dos mais cotados do Landbrokers segue com o irlandês William Trevor (8 para 1). Considerado um dos mais renomados contistas em língua inglesa atualmente, ele é fã de autores como F. Scott Fitzgerald, Ernest Hemingway, Charles Dickens e Jane Austen. “Toda escrita é experimental”, disse Trevor à “Paris Review”, quando a entrevistadora mencionou seu estilo, que é mais “constante”. “Experimento o tempo todo, mas esses experimentos estão escondidos. É como arte abstrata”, comparou. “Se você olhar de perto uma pintura renascentista, encontrará as mesmas abstrações.” Trevor foi três vezes finalista do Man Booker Prize, com “The Children of Dynmouth” (1976), “Reading Turgenev” (1991) e “The Story of Lucy Gault” (2002).


Logo atrás de Trevor, estão o chinês Mo Yan e a canadense Alice Munro (9 para 1).




Wikimedia Commons e Divulgação
Da esq. para a dir., Péter Nádas, Mo Yan e Alice Munro



Mo Yan é autor do romance “Big Breasts and Wide Hips” (seios grandes e quadris largos, numa tradução livre), de 1995, que causou controvérsia – o escritor foi forçado pelo Exército de Libertação Popular (PLA) a escrever uma autocrítica sobre a obra e a desistir de sua publicação, que circula em cópias piratas.


Já Alice Munro foi descrita como uma “dona de casa tímida” quando recebeu seu primeiro prêmio, o Governor General’s Literary Award, o mais importante do Canadá, pela coletânea de contos “Dances of the Happy Shades”. A escritora tinha 37 anos. Hoje, aos 81 anos, coleciona prêmios como o Man Booker International Prize, que recebeu em 2009. 




AP Photo
Bob Dylan em 1965



Bob Dylan, que é frequentemente mencionado como candidato ao Nobel de Literatura, vem em seguida (11 para 1). O músico, que lançou neste ano o álbum “Tempest”, é autor de “Tarantula” (1971), no qual utiliza uma prosa experimental, e trabalha na continuação de sua autobiografia –  “Crônicas: Volume Um” foi lançada em 2004 e publicada no ano seguinte no Brasil, pela Planeta.


Cees Nooteboom, Ngugi wa Thiog’o e Thomas Pynchon aparecem empatados no site de apostas (13 para 1).


Autor de livros como “Dia de Finados” (2001) e “Paraíso Perdido” (2008), o holandês Cees Nooteboom acaba de lançar “Brieven aan Poseidon” (cartas para Poseidon), no qual o autor reúne histórias sobre seu dia a dia, comentários sobre os deuses e novas perspectivas sobre mitos. A ideia do livro surgiu durante um passeio em Munique, na Alemanha. Nooteboom estava buscando um “destinatário” para suas mensagens quando viu, na fachada de um prédio, o letreiro de um restaurante, chamado Poseidon.


O queniano Ngugi wa Thiog’o já ocupou o primeiro lugar nas apostas do Landbrokers, em 2010 – naquele ano, o prêmio foi concedido ao peruano Mario Vargas Llosa. Thiog’o chegou a passar mais de um ano preso no Quênia devido a seus textos. Ao ser libertado, o escritor se mudou para os Estados Unidos, onde lecionou em Yale e na Universidade de Nova York. Só voltou ao Quênia em 2002, quando Daniel Arap Moi, que governava o país desde 1978, deixou o poder. Ainda assim, Thiog’o e sua mulher foram atacados. Em 2009, foi um dos indicados ao Man Booker International Prize.


Avesso a entrevistas e aparições públicas, o americano Thomas Pynchon é dono de uma obra caracterizada pelo gigantismo e pelo uso de inúmeras referências – muitas delas bem obscuras. Para decifrá-lo, seus fãs desenvolvem enciclopédias, como a Pinchonwiki. “Contra o Dia”, seu sexto livro, foi lançado neste ano no Brasil, pela Companhia das Letras.


Ao todo, a lista da Landbrokers traz 109 autores, intercalando nomes famosos, como Philip Roth (17 para 1) e Ian McEwan (51 para 1), com outros menos conhecidos, como o poeta Ko Un, da Coreia do Sul – país cuja manifestação artística mais popular, neste momento, é o hit “Gangnam Style”, de Psy, que se tornou uma febre na internet. Uma reportagem do “Korea Times” (publicação em inglês que pertence ao mesmo grupo do maior diário sul-coreano, o “Hankook Ilbo”) destacou a importância política que o Nobel de Literatura pode ter. Segundo o texto, a comunidade literária do país busca no prêmio uma “compensação” para o período de colonização japonesa, quando os sul-coreanos foram proibidos de falar e escrever em seu idioma. Em 2005, quando o país foi homenageado na Feira de Frankfurt, Ko Un abriu o evento lembrando que, durante a ocupação, precisou abrir mão até de seu nome e usar outro, de origem japonesa.




Aline Massuca/Valor
Ferreira Gullar



Único brasileiro na lista de autores cotados para o Nobel, Ferreira Gullar aparece empatado com Jonathan Franzen, Paul Auster e Michael Ondaatje (101 para 1), entre outros. Atrás deles, a lanterninha: E.L. James (501 para 1), autora do romance erótico “Cinquenta Tons de Cinza”. Por mais imprevisível que possa ser o Nobel, uma aposta parece certeira: não vai dar E.L.


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