Licença especial para perua da VW havia sido cogitada por Mantega, sob argumento de que isso evitaria demissões
SHEILA D’AMORIM
DE BRASÍLIA
Um dia depois de o ministro Guido Mantega (Fazenda) anunciar que o governo estudava abrir uma exceção para que a Kombi continuasse a ser fabricada mesmo sem a instalação de equipamentos de segurança, o Contran (Conselho Nacional de Trânsito) comunicou que não haverá excepcionalidade para nenhum modelo.
Em reunião extraordinária realizada na tarde de ontem, o órgão responsável pela criação da regra que obriga equipar todos os carros novos com airbag e freios ABS a partir do ano que vem ratificou por unanimidade a resolução prevista desde 2009.
“Seria um retrocesso a revogação da resolução, que tem como preocupação elevar o padrão dos carros. A decisão teve como pressuposto a garantia da segurança das pessoas”, disse o ministro Aguinaldo Ribeiro (Cidades).
Antes de tomar a decisão, o conselho, presidido por um representante do Ministério das Cidades, ouviu argumentos da Anfavea em defesa da manutenção da Kombi.
Segundo o conselho, o principal argumento da indústria é que a desativação da linha de produção causaria demissões de cerca de 900 empregados envolvidos diretamente na fabricação.
Contando o resto da cadeia de produção, o total de vagas fechadas chegaria a 4.000, segundo o setor.
O número de empregados foi considerado exagerado pelos conselheiros dada a quantidade desses veículos licenciados por ano: 22.521 em 2013, ante 26.165 em 2010.
EMPREGOS X VIDAS
“Solução para manutenção do emprego há diversas; para a vida das pessoas, não se pode prescindir desses equipamentos, que reduzem as vítimas nos acidentes”, afirmou Ribeiro. “A vida das pessoas não tem preço.”
Ribeiro disse ainda que o episódio em torno do adiamento da regra não deixa nenhum mal-estar entre ele e o ministro Guido Mantega.
Nesta semana, após reunião com a Anfavea, Mantega havia afirmado que estava em estudo uma exceção para a Kombi e que uma decisão seria anunciada na próxima segunda-feira, após nova reunião entre governo e setor.
Folha de S. Paulo