Recaída na Europa e falta de vigor na China e nos Estados Unidos fazem Banco Central rever cenário externo
MAELI PRADOO presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, advertiu ontem que os efeitos da crise internacional poderão durar mais dois anos, submetendo a economia global a um longo período de incerteza e baixo crescimento.
“Teremos ao longo dos próximos trimestres, e quem sabe dos próximos dois anos, um cenário ainda caracterizado pela volatilidade dos mercados internacionais e crescimento mais baixo do que se esperava há alguns trimestres”, afirmou, em audiência na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado.
Foi a primeira vez que o presidente do BC foi mais específico em relação à duração estimada dos impactos da turbulência internacional.
Se a previsão de Tombini se confirmar, a presidente Dilma Rousseff terá enfrentado quatro anos de baixo crescimento ao chegar ao fim do mandato, em 2014, quando poderá concorrer à reeleição.
Tombini disse que, do início do ano para cá, a economia europeia teve uma “recaída” com a dívida grega e os questionamentos sobre o sistema financeiro na Espanha.
Ele mostrou aos parlamentares projeções externas que apontam para um crescimento global de 2,3% neste ano, abaixo dos quase 3% esperados no final do ano passado.
No caso dos EUA, Tombini disse que a perspectiva é de expansão “moderada”. Sobre a China, afirmou que o país tem como administrar um “pouso suave” da economia.
Tombini voltou a repetir que a crise externa ajuda a conter a inflação no Brasil e manteve a expectativa de uma retomada da atividade doméstica no segundo semestre. “Teremos um crescimento do PIB [Produto Interno Bruto] mais forte, pela série de estímulos que a economia já recebeu”, afirmou.
O BC está reduzindo a taxa básica de juros desde agosto e anunciou nos últimos meses várias medidas para estimular a economia. A expectativa do mercado é que o Brasil cresça 2,5% em 2012, abaixo dos 2,7% do ano passado.
Para Monica de Bolle, sócia da Galanto Consultoria, o governo está certo em estimular o consumo, o que pode elevar a taxa de crescimento do país para a casa de 3%.
Para crescer cerca de 4%, seria preciso reduzir mais tributos e impulsionar investimentos. “Para crescer mais de 5%, é preciso ajuda do cenário internacional”, disse. “Sem isso, fica difícil repetir a média dos anos Lula.”
O diretor de políticas econômicas do Bradesco, Octavio de Barros, observa que a crise no exterior provocou tamanha incerteza que até eliminou vantagens antes vistas nos países emergentes.
“O mau humor global se irradia. Não existem mais ‘queridinhos’ no mundo, nem a China ou a Índia. É uma questão de incerteza geral afetando decisões [de investimento] aqui e lá fora”, afirmou.
A bonança provocada pelo aumento dos preços das matérias-primas vendidas pelo Brasil no exterior “não está mais presente” porque a China pisou no freio, disse, lembrando que qualquer sinal de reação na Europa pode ser positivo para o Brasil.
“SPREADS”
Tombini disse na audiência no Senado que os spreads bancários (diferença entre a taxa que os bancos pagam para captar recursos no mercado e o que cobram de consumidores e empresas) estão caindo, mas que esse processo ainda está “no início”.
No início de abril, o governo pressionou o Banco do Brasil e a Caixa a reduzirem suas taxas de juros. O movimento foi acompanhado pelos bancos privados.
Sobre a alta do calote, ele pontuou que este deve cair no segundo semestre. “A própria redução dos juros básicos cria um ambiente que permite redução da inadimplência mais para a frente”, disse.