Curso on-line da USP ensina os passos da alimentação saudável

O que é alimentação saudável? Essa é uma questão que interessa a muita gente e, por vezes, devido à grande profusão de notícias relacionadas ao assunto, ela transforma-se em verdadeira incógnita. No que se deve acreditar?

Para resolver o problema, dois especialistas da área se uniram e criaram um meio de informar o público sobre os princípios necessários a uma alimentação saudável de fato, além de ensinarem receitas apetitosas, em linguagem simples.

É o curso on-line Comida de verdade, desenvolvido pelo pesquisador Carlos Augusto Monteiro, do Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde (Nu pens), da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo, em parceria com o canal do YouTube Panelinha, da chefe Rita Lobo, com o apoio da Sociedade Brasileira de Cardiologia.

“Comida de verdade não é aquela industrializada, que você põe no micro-ondas, aquece e come. É a comida que você prepara”, explica Monteiro, logo no comecinho do primeiro dos dez vídeos que compõem o curso. Coordenador do Guia alimentar para a população brasileira, lançado em 2014 pelo Ministério da Saúde, o pesquisador explica que a justificativa para a criação do recurso audiovisual foi difundir as noções presentes no guia.

Parceria – “O Nupens é um dos principais órgãos de pesquisa em nutrição do País e do mundo, e, como as informações que compõem a publicação resultam de estudos realizados lá, entendi ser importante torná-las ainda mais acessíveis”, informa ele, que é médico especializado em medicina preventiva, saúde pública e nutrição.

A parceria com a chefe foi pensada quase ao mesmo tempo da proposta, porque um livro de culinária assinado por Rita Lobo já havia sido escolhido para compor a bibliografia indicada no guia. “Para ter uma alimentação desse tipo, é necessário preparar os alimentos em casa. Daí a ligação com a Rita, profissional que tem grande empatia com o público e identificada com aquilo que propomos.”

De acordo com Monteiro, além de conscientizar a população sobre a importância de consumir alimentos mais naturais, a intenção é mostrar formas simples, interessantes e acessíveis de fazer isso. Assim, as dicas oferecidas incluem tanto informações sobre alimentos quanto dietas para perder peso, utensílios indispensáveis, como comer bem na rua e incentivar a participação das crianças na cozinha, fazer lista de compras, entre outras.

Arroz e feijão – O grupo de pesquisadores do Nupens estuda o padrão brasileiro de alimentação há décadas. Uma das principais constatações desse trabalho é que, quanto mais os brasileiros consomem comida de verdade e, portanto, respeitam as tradições culinárias do Brasil, mais as pessoas têm uma alimentação balanceada e menor risco de obesidade.

Um traço marcante do padrão alimentar brasileiro é a mistura de arroz com feijão, presente em todas as regiões do País. De acordo com pesquisas, em 90% a 95% dos dias da semana, em média, as pessoas ingerem esses dois ingredientes. “Se consumissem o arroz branco com batata e carne, por exemplo, faltaria alguma coisa na alimentação, como as fibras. E o feijão é rico em fibras. Por isso essa mistura proporciona um padrão de proteína bem adequado, que tem praticamente a qualidade da proteína da carne”, informa.

Os benefícios dos hábitos de consumo alimentar típicos do País não param por aí. Ao lado da grande variedade de tubérculos e raízes utilizados (batata, mandioca, inhame, etc.), de frutas e de misturas, conforme a região, são inúmeras as preparações culinárias que usam carnes, entre outros ingredientes, como recheio. Por isso, são também considerados comida de verdade e nutricionalmente equilibrados, ou seja, indicados para proporcionar mais saúde e prazer.

Orgânico – De acordo com Monteiro, países onde o padrão alimentar foi abandonado e hoje não é possível reconhecê-lo, porque as indústrias de ultraprocessados controlam o sistema alimentar, são os que registram os piores indicadores de saúde. Ele cita três exemplos: “Estados Unidos, Inglaterra e Austrália”.

O professor assegura que não é verdadeira a percepção que as pessoas têm de que comida de verdade é menos econômica. “No Brasil, ainda costuma ser mais barato fazer uma alimentação saudável”, garante. De acordo com ele, é importante que esse hábito não seja abandonado. “Nos países onde os ultraprocessados têm uma indústria muito forte, a alimentação tradicional acabou virando luxo”, informa.

Boa dica para gastar menos com um bom alimento é buscar os artigos da estação. “Obrigatoriamente você encontra produtos mais baratos e variados.” Sobre os orgânicos, antes de se discutir o preço, o professor diz que é importante pensar nas vantagens que eles representam. “A primeira é serem livres de agrotóxicos; a segunda, são especialmente saborosos, entre tantas outras”, diz.

Aulas – O professor destaca a questão da proteção dos recursos naturais e o fato de o alimento orgânico ser produzido pela agricultura familiar. Ele ressalta que o consumo dos orgânicos estimula esse sistema de cultivo, atividade econômica importante para qualquer sociedade, e provoca a redução de preço.

As aulas oferecem ainda outros esclarecimentos na questão alimentar. O especialista espera que um grande número de interessados acesse o material. “Nosso plano é que esse curso seja exibido em todas as unidades básicas de saúde, além de outros locais de grande circulação de pessoas, como o Metrô”, torce.

DOE, Executivo I, 18/08/2016, p. IV