Desafios de mães cadeirantes

Tatiana Rolim, Carolina Ignarra e Flávia Cintra têm uma razão a mais para celebrar o Dia das Mães: o livro Maria de Rodas – delícias e desafios na maternidade de mulheres cadeirantes. Acompanhadas pelos filhos, lançaram a obra no Museu do Futebol com depoimentos emocionantes sobre suas experiências de vida. As autoras relatam as surpresas, alegrias, angústias e dificuldades vivenciadas no cotidiano com as crianças. Ao apresentar o livro, Tábata Contri diz ser “soma de emoção, energia, tempo e inspiração compartilhados para dizer que o melhor da vida é viver”.
Como toda mãe, as cadeirantes Tatiana, Carolina e Flávia se empolgam ao falar dos filhos. “Ser mãe é ter o coração batendo fora do peito. É como se meu pedaço mais importante vivesse fora do meu corpo”, define Flávia. “Minha filha me ensina, completa, fascina e faz a vida ter sentido”, declama Carolina.
As três Marias viveram o sonho de ser mãe, como a maioria das mulheres. Ainda no hospital, após acidente que a deixa paraplégica, a primeira pergunta ao médico foi: “Posso engravidar”?, relata uma delas. E, também como a maioria das mulheres,
enfrentaram os medos e inseguranças típicos da maternidade: “Como posso ensinar meu filho a andar estando numa cadeira de rodas?”, questionava-se Flávia.
A resposta à preocupação veio dos filhos, os gêmeos Mariana e Mateus. Eles descobriram uma barra na cadeira de rodas que
servia de apoio para se levantar e depois começaram a dar os primeiros passinhos agarrados a ela. “Eu e a minha cadeira de
rodas viramos andador! Foi desse jeito que eles aprenderam a andar”, conta Flávia, repórter da TV Globo.
Magia das Marias – Consultora da Talento Incluir, Carolina desenhou berço adaptado para cuidar da filha Clara. Angustiava-se em pensar como a filha a retrataria nos desenhos: o primeiro desenho de Clara está no livro. Por trabalhar na área médica, a psicóloga Tatiana confessa: Tinha medo da anestesia… que a medula fosse ferida … de não participar do nascimento…”.
Depois do parto: “Foi realmente mágico, lindo, muito mais do que eu poderia imaginar”.
As três Marias chocam-se com os preconceitos. Ao falar da vontade de ser mãe, Tatiana ouviu o médico perguntar ao marido:
“Você tem certeza de que quer engravidá-la”? “Ninguém fica imaginando ao olhar para uma grávida sem deficiência se ela engravidou por vias normais”, compara Tatiana. Enfrentou também o estigma social: “Até me perguntaram se eu fiz inseminação!”, conta a mãe de Maria Eduarda. “Um fato curioso é encarar uma sociedade que não espera por uma mãe cadeirante”,
completa Carolina.
O olhar diferenciador – O que as diferencia de outras mães são algumas especificidades – como maior propensão a infecção urinária e trombose – e, principalmente, o olhar do outro, dizem as autoras. “Ser mãe não se resume em desempenhar tarefas físicas”, salienta Flávia. As Marias relatam dificuldade de encontrar lugar acessível para passear, como parque, cinema, teatro, hotel e até a escola dos filhos. Flávia conta da “imensa frustração” de voltar sozinha para casa por não ter conseguido se locomover até a plateia do teatro com os filhos para assistir à peça Cinderela.
Ao longo das 135 páginas, o leitor encontra outros depoimentos e relatos emocionantes. Após a conquista da maternidade,
sonham “que o livro ajude a construir um mundo melhor”. Pedem para avisar “aos desavisados que não existe dificuldade
quando se tem vida”. E deixam o recado: “Que ninguém nunca duvide da possibilidade de realizar-se em todos os aspectos
da vida”. O trio conta a razão de viver sobre rodas: são vítimas de acidente. O que muda é o veículo: moto, bicicleta e carro.
Com prefácio de Célia Leão, mãe cadeirante de três jovens, a obra traz relatos de Juliana Oliveira e Katya Hemelrijk.
Publicação da Editora Scortecci, o livro recebe apoio cultural do Governo de São Paulo, Museu do Futebol, Secretaria Estadual da Cultura, Talento Incluir, Deloitte, entre outros.


Claudeci Martins
Da Agência Imprensa Oficial