Estudo divulgado mundialmente, encomendado pela farmacêutica Novartis, destaca que 96% dos brasileiros pesquisados com psoríase afirmaram, em algum momento, ter enfrentado discriminação e humilhação devido à doença. E 62% deles foram questionados se a moléstia é contagiosa ou não. Em relação ao preconceito, países latino-americanos, como México e Argentina, tiveram índices melhores nesse quesito, abaixo inclusive da média global, que é de 84%.
“Por desconhecimento, muitas pessoas acham que a psoríase é contagiosa e, por isso, evitam dar a mão ao paciente e não compartilham a mesma mesa ou cadeira. A população precisa saber que a doença não é contagiosa e tem tratamento para controle dos sintomas”, esclarece o dermatologista Ricardo Romiti, responsável pelo Ambulatório de Psoríase, ligado ao Hospital das Clínicas (HC) da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP).
Trata-se de um problema de saúde inflamatório da pele que acomete adultos jovens (de 20 a 40 anos) e, às vezes, pessoas de qualquer idade. Suas principais características são placas na derme com escamação branca ou prateada cercada por manchas avermelhadas. Atinge, geralmente, couro cabeludo, braços, pernas e região lombar.
Causas – O grau de extensão das manchas é variável, pode atingir poucas áreas do corpo (forma leve), até níveis mais graves, que afetam o corpo inteiro. “Causa coceira e dor. As placas transformam-se em rachaduras (fissuras). Quanto mais o paciente coçar a lesão, maior será sua área de extensão”, adverte.
A causa pode ser genética ou motivada por “fator precipitante” (como infecção na garganta ou uso de corticoides). O dermatologista assinala que paciente com psoríase que usar corticoides terá o caso agravado. O estresse devido a problemas pessoais, familiares ou profissionais também favorece a manifestação da doença. “No inverno, os sintomas pioram por causa de banho mais quente, que resseca a pele, e devido à falta de exposição ao sol – uma das formas de tratamento”, informa.
A psoríase também pode se manifestar sem causa aparente. Trinta por cento dos pacientes desenvolvem problemas nas articulações (artrite psoriásica), em geral, nos pés e mãos, coluna lombar e outras regiões do corpo. “Na última década, estudos identificaram que as formas mais graves da psoríase são acompanhadas da síndrome metabólica (pressão arterial elevada, diabetes, obesidade), que predispõe o doente a problemas cardiovasculares”, diz o médico do HC.
Preconceito – Apesar de a psoríase atingir 1,3% da população (dados da Sociedade Brasileira de Dermatologia), o preconceito ainda é um dos problemas enfrentados pelo doente. O dermatologista recomenda pomada anti-inflamatória quando a lesão atinge pequena porção da pele. Áreas maiores exigem fototerapia (aplicações de luz ultravioleta), remédios orais e injeções com medicamentos modernos, chamados biológicos. No Estado de São Paulo, ele diz que os hospitais públicos universitários são referência na assistência, coberta integralmente pelo Sistema Único de Saúde (SUS). E ressalta que é necessário atendimento multiprofissional (clínico geral, psicólogo, dermatologista e outras especialidades).
Quem apresentar lesão inflamatória com escamação na pele deve procurar o dermatologista caso os sintomas não desapareçam após algumas semanas. “Essa doença é frequente na população e as pessoas precisam saber que o tratamento é benéfico e melhora a qualidade de vida do doente”, enfatiza.
Pesquisa – A pesquisa Clear About Psoriasis, encomendada pela empresa farmacêutica, foi realizada com 8.338 pessoas, em 31 países, incluindo o Brasil. Das 25 associações de pacientes participantes, uma é brasileira (a Psoríase Brasil).
Dos 426 pacientes brasileiros entrevistados, 60% são mulheres e 40%, homens. Desses, 61% têm artrite psoriásica (associa sintomas da psoríase com artrite) e em 56% dos entrevistados a lesão atingiu toda a pele do corpo.
Em média, os doentes precisaram procurar quatro profissionais de saúde diferentes antes de obter tratamento promissor (sem lesões ou quase sem lesões). A pesquisa indica que as pessoas se sentiram menos afetadas pela doença e ganharam mais qualidade de vida.
Entre os doentes, 57% afirmaram sentir-se constrangidos com a sua pele; 41% têm autoestima baixa; e 38% sentem-se deprimidos por conta da doença. De acordo com dados globais, as mulheres reportam mais sentimentos (vergonha, baixa autoestima ou falta de confiança) do que os homens.
Outra constatação: 79% dos entrevistados brasileiros não frequentam ou evitam frequentar praia ou piscina por não se sentirem confortáveis com roupas de banho.
DOE, Executivo I, 18/08/2016, p. III