A partir de agora, quem decidir manter o som do carro alto na calçada ou na
rua poderá levar uma multa de R$ 1 mil – podendo chegar a R$ 4 mil em caso de
reincidência – e ter o veículo apreendido. O prefeito Fernando Haddad (PT)
regulamentou ontem a lei que restringe a emissão de ruídos por aparelhos de som
instalados em veículos estacionados em vias públicas ou em calçadas
particulares, uma forma de combater os chamados “pancadões” que ocorrem nas
periferias.
Antes disso, a fiscalização contra o barulho só poderia ocorrer em ambientes
fechados. Na nova legislação não há definição de horário para que haja a
autuação.
Agentes da Divisão Técnica de Fiscalização do Silêncio Urbano (Psiu) serão os
responsáveis pela fiscalização da chamada lei do pancadão, com apoio da
Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) e também da Polícia Militar. Desde
março de 2013, um convênio entre o Estado e a Prefeitura permite que a PM
participe das operações do Psiu à noite. Um dos focos dessa iniciativa já era
acabar com os “pancadões”.
Em geral, os “pancadões” são bailes funk que ocorrem nas ruas. A PM já mapeou
cerca de 400 pontos em que esses bailes ocorrem com frequência em São Paulo. Mas
festas com som de carro alto também ocorrem no entorno de universidades.
Os limites de ruído são os mesmos já definidos pelo Psiu, classificados como
alto nível (nas áreas residenciais, o limite é de 50 decibéis das 7h às 22h e de
45 decibéis durante a noite). As fiscalizações poderão ser realizadas por
decisão do Psiu ou a partir de denúncia – em que o denunciante poderá manter o
sigilo, o que não ocorre com a lei do silêncio.
Responsável. A multa será aplicada no momento da autuação,
em que o ruído será medido por um decibelímetro – aparelho que mede o total de
decibéis. O dono do veículo será responsabilizado. Em caso de descumprimento da
ordem para diminuir o volume, o aparelho sonoro ou o veículo no qual o som
esteja instalado pode ser apreendido. O valor da multa dobra na primeira
reincidência e quadruplica a partir da segunda vez que ocorrer no prazo de 30
dias. O proprietário do veículo poderá recorrer.
Conhecido como MC Jota L, Jefferson Luis, de 20 anos, organizador do primeiro
“rolezinho” em shoppings, em dezembro, já frequentou pancadões, mas entende que
a proibição tem um lado positivo. “É muito barulho e não adianta querer nossos
direitos e atrapalhar o dos outros”, diz ele, que faz uma ressalva: “Acho certo
proibir na rua, mas é errado não oferecer outra opção do que fazer”.
Em janeiro passado, Haddad havia dito que o problema provocado pelo som alto
dos carros e pela bagunça nas ruas dos bairros da periferia da cidade não seria
resolvido só com repressão. Em nota divulgada no site da Prefeitura ontem, o
Município defende que tem incentivado a valorização do funk na cidade. “O
Município, em conjunto com movimentos do funk, vem auxiliando eventos na
periferia, colaborando na obtenção de espaço adequado, estrutura e apoio na
segurança dos frequentadores e artistas”, cita o texto.
A Prefeitura, que tem cerca de 30 agentes de fiscalização do Psiu, está
realizando a compra de novos decibelímetros. Hoje, o órgão é centralizado na
Secretaria de Coordenação das Subprefeituras, mas há a expectativa, segundo o
Estado apurou, de que a regulamentação da lei do pancadão sirva
para iniciar o processo de descentralização do Psiu para as subprefeituras.
Também existe a expectativa de que policiais militares realizem a fiscalização
sozinhos (mais informações nesta página).
A lei é de autoria dos vereadores Antonio Carlos Rodrigues (PR), Dalton
Silvano (PV) e Coronel Camilo (PSD) e foi sancionada em maio pelo prefeito, mas
a regulamentação aconteceu somente ontem – ela deveria ter sido feita em julho.