Hospital do Homem elimina uso de sonda em centenas de pacientes

Por causa da dificuldade para urinar, usei sonda durante oito meses, que era substituída no hospital a cada 20 dias. Nesse período, só saía de casa para fazer a troca. Agora, com a cirurgia, vou poder passear pela minha cidade (Osasco, na Grande São Paulo)”, comemora o aposentado Francisco da Silva, 84 anos, que era auxiliado pela filha, diversas vezes por dia, para a retirada da urina da sonda.

O aposentado é um dos 950 pacientes com sonda vesical, residentes na Grande São Paulo, que aguardavam a cirurgia urológica e passaram por um procedimento minimamente invasivo, nos últimos dois anos, na Unidade de Apoio do Hospital São José, situada no Imirim, zona norte.

Conhecido como Hospital do Homem da Zona Norte, o serviço foi criado em setembro de 2014 e é administrado pela Secretaria Estadual da Saúde em parceria com o Instituto do Câncer Arnaldo Vieira de Carvalho.

O diretor do São José, Antonio Jorge Martins, conta que a proposta inicial era atender homens “sondados” da zona norte: “No entanto, soubemos de pacientes de outras regiões da cidade e da Grande São Paulo que usavam o dispositivo há anos. Com o apoio da secretaria, criamos o programa Sonda Zero para operá-los e lhes garantir autonomia, além de melhor qualidade de vida”.

Preconceito – Chamada ressecção endoscópica de próstata¸ a cirurgia é indicada a homens com diagnóstico de crescimento benigno da glândula. Quem tem esse problema de saúde, inicialmente se queixa de dificuldades para urinar e infecção urinária, o que ocasiona ausências no trabalho, entre outros.

Muitas vezes, “o homem não procura o médico por vergonha, preconceito da sociedade ou dificuldade de acesso ao especialista adequado”, explica o responsável pelo serviço de urologia do São José, Joaquim Claro.

Claro explica que, em estágio avançado da doença, a pessoa não consegue urinar, sendo necessário o uso da sonda vesical, que não resolve o problema, apenas drena a urina. A próstata aumentada pressiona a uretra, canal por onde passa a urina, comprometendo sua saída.

“A sonda é uma alternativa desumana para esse problema, pois o homem não pode ter relação sexual, perde sua privacidade na família e ainda enfrenta o odor da urina exalado no ambiente”, enumera o urologista Joaquim Claro. Além disso, ele alerta para o risco de infecções e de problemas que podem causar insuficiência renal.

Vantagens – A unidade dispõe de 15 cirurgiões urológicos, 14 anestesistas, 17 enfermeiros e 40 auxiliares de enfermagem, além de três salas cirúrgicas, 40 leitos de internação, 10 leitos de unidade de terapia intensiva (UTI) e equipamento cirúrgico alemão de última geração.

O aparelho europeu foi adquirido em comodato. Por esse tipo de contrato, se ocorrerem problemas técnicos ou houver a criação de máquina mais moderna, ele será substituído imediatamente, sem afetar o fluxo de procedimentos agendados.

“Na hora da ressecção endoscópica de próstata, a máquina oferece visualização nítida da área afetada, o que beneficia o trabalho do cirurgião e torna o procedimento mais seguro ao paciente. A bexiga e a próstata do paciente são irrigadas com 40 a 60 litros de soro fisiológico, diferentemente do equipamento convencional, que usa um produto estéril à base de glicose, quatro vezes mais caro e que pode provocar infecção”, compara o urologista.

Ultramoderno – Entre os benefícios do procedimento minimamente invasivo, o médico diz que estão: ser realizado sem cortes, sem complicações cirúrgicas; e exigir menor tempo de internação e menos anestesia em relação à técnica tradicional. “Diferentemente da outra operação, essa nova técnica não causa sangramento nem impotência sexual”, informa o chefe da urologia.

“Somos o primeiro hospital público do Sistema Único de Saúde (SUS) a operar com esse equipamento ultramoderno. Nem mesmo hospitais privados paulistas renomados oferecem essa opção ao paciente. Nossos resultados são comparáveis aos dos melhores centros de referência americanos em urologia”, ressalta Joaquim Claro.

A unidade de urologia também atende pacientes com câncer de próstata em estágio inicial. São casos que não exigem nem radioterapia nem quimioterapia. A cirurgia, chamada prostatectomia radical, remove o tumor e resulta em 85% de cura.

Fase inicial – O urologista afirma que a unidade realiza 25 cirurgias por mês, sendo o segundo serviço mais demandado da Grande São Paulo (o primeiro é o Instituto do Câncer do Estado de São Paulo – Icesp).

O São José também oferece tratamento de varicocele (dilatação anormal das veias do testículo), hidrocele (presença de líquido dentro da bolsa escrotal) e fimose (anomalia na pele que recobre o pênis), de acordo com informações do urologista. “Esses casos, que deveriam ser simples, podem se tornar mais graves porque o homem, em geral, não busca a assistência médica na fase inicial”, lamenta o urologista.

Nos últimos anos, havia demanda de mais de 10 mil pacientes por assistência urológica na Grande São Paulo. “Nove mil deles passaram por aqui para operação ou tratamento ambulatorial; os demais foram encaminhados a outros serviços do SUS”, informa o diretor Martins.

Desde setembro de 2014, a unidade faz 140 cirurgias urológicas por mês, em pacientes da Grande São Paulo, tendo sido realizadas, em média, 24 mil consultas ambulatoriais de urologia e 3.411 cirurgias urológicas. Para facilitar a vida do homem e de seus familiares, muitos desses procedimentos são feitos aos sábados.

O doente com problema urológico deve agendar consulta na Unidade Básica de Saúde (UBS) mais próxima de sua residência para avaliação do caso e encaminhamento a um Ambulatório Médico de Especialidades (AME). Dependendo da complexidade do caso, ele poderá ser direcionado ao Hospital do Homem ou a outro serviço, de acordo com a disponibilidade de vagas.

DOE, Executivo I, 11/10/2016, p. III