Banco Central também projeta pico –de 6,4%– em setembro e vê 40% de chances de estourar a meta no fim do ano
EDUARDO CUCOLO
DE BRASÍLIA
A inflação ao consumidor deve ficar acima do teto da meta oficial durante praticamente toda a campanha eleitoral e alcançar o patamar mais alto do ano às vésperas do primeiro turno.
Cálculos feitos pela Folha com base em dados do IBGE e nas projeções de analistas do mercado colhidas pelo Banco Central na pesquisa Focus mostram que o IPCA acumulado em 12 meses vai superar o limite de 6,5% em julho e só voltará a ficar abaixo desse nível em dezembro.
O pico será em setembro –uma taxa de 6,72%.
O IPCA, usado como parâmetro para a meta de inflação, acumula alta de 5,68% nos 12 meses encerrados em fevereiro. A meta oficial é de 4,5%, com teto de 6,5%.
A previsão do mercado é que no fim do ano ela esteja perto desse limite, em 6,37%.
Entre as instituições que mais acertam as previsões na Focus, a estimativa para o IPCA em 2014 já está em 6,57%. Se isso ocorrer, será a primeira vez que a meta de inflação será descumprida desde 2003.
O governo também espera um pico inflacionário no terceiro trimestre. As projeções do BC mostram um IPCA de 6,4% em setembro. Em dezembro, estaria em 6,1%, com quase 40% de chances de estourar a meta no fim do ano.
Desde dezembro, os índices de preços têm vindo acima do esperado. A situação se agravou em março com o que o BC chamou de “choque” no preço dos alimentos, por questões climáticas.
QUESTÃO ELEITORAL
Do ponto de vista eleitoral, esse é um ponto negativo para o governo, pois a inflação de alimentos é percebida mais rapidamente pela população, segundo Armando Castelar Pinheiro, coordenador de Economia do IBRE/FGV e professor da UFRJ.
Castelar afirma, no entanto, que a oposição terá de traduzir essa questão para uma linguagem que o eleitorado entenda. Ele diz que o governo pode ainda segurar outros preços, como tem feito com a gasolina e a energia elétrica.
“A inflação está alta. Não parece alta porque o governo está congelando preços à custa da saúde financeira do setor sucroalcooleiro, da Petrobras e do setor elétrico.”
O governo, por outro lado, pode argumentar que não promoveu um combate mais efetivo da inflação para não prejudicar o emprego, segundo o cientista político da PUC-Rio Ricardo Ismael.
A insatisfação da população com o desempenho da economia foi apontado como um dos fatores que derrubaram a popularidade da presidente Dilma Rousseff na pesquisa Ibope da semana passada. No levantamento, os entrevistados mostraram descontentamento em relação a inflação e emprego.
“Entre essas duas variáveis, talvez a que pese mais é o emprego”, diz.
Para Ismael, essa política econômica tem “data marcada para acabar” e os reajustes de preços virão após as eleições. Já Castelar considera que não haverá mudanças na política de combate à inflação nem em um eventual segundo mandato de Dilma.
Folha de S. Paulo