Fernando Caldas e Blanca Camargo – Foto: Roberto Navarro
A incorporação da vacinação contra o HPV pela rede pública
de saúde do Estado de São Paulo esteve no centro das discussões do 2º Seminário
Prevenção e Combate ao HPV, realizado nesta segunda-feira, 11/3, pela Frente Parlamentar
em Defesa dos Direitos das Mulheres, coordenada pela deputada Ana Perugini
(PT), em parceria com a Sociedade de Obstetrícia e Ginecologia do Estado de São
Paulo (Sogesp).
A deputada Perugini é autora do Projeto de Lei 708/2007, que
autoriza o Poder Executivo a instituir o programa de vacinação contra o
Papiloma Vírus Humano – HPV na rede pública de saúde, e também do PL 326/2012,que
visa instituir o Dia Estadual de Combate ao Câncer de
Colo de Útero, a ser comemorado anualmente em 11 de março,
que marca o nascimento de Harald Zur Hausen, médico responsável pelas pesquisas
que identificaram o HPV16 e HPV18 em cânceres cervicais e colaboraram para o
desenvolvimento da vacina. Hausen recebeu, em 2008, o prêmio Nobel de Medicina,
junto com Luc Montagnier e Françoise Barré-Sinoussi.
César Eduardo Fernandes, presidente da Sogesp, disse que a
entidade, que representa cerca de 6 mil ginecologistas e obstetras, está
empenhada na campanha para sensibilizar o Poder Público em relação à
necessidade de implantação da vacina contra o HPV no Estado de São
Paulo. Ele destacou que as questões da saúde das mulheres não
se resumem ao HPV, mas que este é um tema que merece por parte do Poder Público
uma ampla política de comunicação, com informações de qualidade.
Campanhas educativas
Odair Albano, ginecologista e obstetra, reforçou a necessidade
de campanhas educativas e de informação pela mídia. “Todos nós somos veículos
de comunicação.
Todos os cidadãos são suportes de informações. A mulher, mais
do que nunca, precisa da comunicação, pois 40% das mortes por câncer de útero
são evitáveis”, disse.
A diretora da Sogesp, Márcia Fuzaro Terra Cardial, coordenadora
da campanha contra o HPV, disse que existem ainda muitos preconceitos em torno
das doenças sexualmente transmissíveis. “Muitas pessoas confundem HPV com
promiscuidade, sem saber que, em algum momento da vida, todos podemos encontrar
o vírus em nossos organismos.”
Estudos internacionais indicam que entre 50% e 80% das
mulheres sexualmente ativas serão infectadas por um ou mais tipos de HPV em
algum momento de suas vidas.
Segundo Márcia, 100% dos casos de câncer do colo de útero estão
associados ao HPV, em particular os dos tipos 16 e 18. Ela destaca que a fase
mais propícia para se proteger do vírus é entre os 11 e 14 anos. A vacinação
confere imunidade para aquelas mulheres ainda não expostas aos HPV tipos 6, 11,
16 e 18, situação esta que atinge especialmente as mulheres que não iniciaram a
atividade sexual.
Segundo a especialista, as duas variedades de vacinas existentes
são eficazes e aprovadas pelas sociedades médicas e vigilância sanitária. Ficar
esperando para aplicá-las pode ser uma conduta de risco. “Vamos vacinar as
adolescentes. Temos de proteger, sim, a infância e as meninas”, disse Márcia,
sem deixar de alertar para a necessidade de outros controles do HPV, como o
rastreamento por meio de exames regulares de Papanicolaou e o uso de
preservativos, entre outros.
Eficácia comprovada
A bioquímica e pesquisadora do Instituto do HPV da Santa
Casa de São Paulo Luiza Lina Villa também foi enfática ao afirmar que a vacina
é segura e efetiva contra os tumores causados por HPV. De acordo com a
pesquisadora, a vacina bivalente tem evidências de ser eficaz em 70% dos casos
de colo de útero. Já a Quadrivalente previne 70% dos casos de câncer do colo de
útero, 40% do câncer de vulva, 56% de câncer de vagina, 87% dos casos de câncer
de ânus e 90% dos casos de câncer peniano.
Luiza apresentou o exemplo da Austrália, país que adotou a
vacinação contra o HPV no seu sistema público de imunização e atingiu
resultados significativos de redução de verrugas genitais entre as mulheres
vacinadas, cerca de 59%. Também entre os homens que se relacionavam com essas
mulheres houve queda de 35%.
Segundo a pesquisadora, os desafios para a adoção massiva da
vacinação contra o HPV estão no ainda elevado custo da vacina, na existência de
outras prioridades em programas de saúde pública e na dificuldade de
administração e monitoramento da imunização em grande escala.
Também em defesa da vacina, a médica Cecília Maria Rotelli Martins,
do Hospital Leonor Mendes de Barros, na zona leste da capital, lembrou que no
mundo 529 mil novos casos de
câncer no colo do útero causados por HPV surgem anualmente, e
cerca de 275 mil mulheres morrem em consequência dele. “Ao longo dos anos,
ainda não assistimos à diminuição do
número de casos. É um mito considerar que o rastreamento do câncer
do colo de útero por meio de testes Papanicolaou seja mais eficaz do que a
imunização. A verdade é que a vacina é
mais efetiva para evitar a doença.”
Menção honrosa
Vinte pessoas da área médica e fora dela, que se destacaram
na luta pela adoção da vacina contra o HPV, foram homenageadas com a entrega de
menção honrosa e consideradas propagadoras da campanha de vacinação: Márcia
Terra Cardial, César Eduardo Fernandes, Anilita Lunardi Bustus, Carla Carvalho,
Clotilde Martins, Fernando Rodrigues, Giana Venâncio, João Bosco Misiara, José
Luiz Esteves Francisco, Lenira Maria Queiroz, Maria Cecília da Silva Vignola,
Neil Oliveira Lamara, Patrícia Luchesi, Paulo César Girardi, Sílvia Maria
Bergamo, Zubeide da Silva, Luiza Lina Villa, Cecília Rotelli e a deputada Ana
Perugini.
O presidente da Sogesp, César Fernandes, ao agradecer a
menção honrosa, destacou que qualquer que seja a vacina contra o HPV adotada
pelo Estado e pela federação será bemvinda,
e que o mais importante é realizar a vacinação na “janela” apropriada,
ou seja, em meninas a partir dos 11 anos.
Médicos e especialistas defendem vacinação contra HPV na
rede pública Fase mais propícia para se proteger do vírus é entre 11 e 14 anos A
deputada Ana Perugini, ao encerrar o seminário, enfatizou que a luta é para que
a vacina contra o HPV chegue à rede pública não só no Estado de São Paulo como no
Brasil, no SUS. Ela destacou também que não basta a realização do exame
Papanicolaou para fazer frente ao crescimento
de óbitos por câncer de colo de útero, já que o exame é meramente dignóstico,
somente a vacinação previne de forma eficaz. Ela informou ainda que tramitam na
Câmara dos Deputados dois projetos de lei, de autoria do Senado e já aprovados
por ele, que propõem a inclusão da vacinação na rede SUS.
Sobre o HPV
Os HPV, sigla em inglês para papiloma vírus humano, são
vírus da família Papilomaviridae, capazes de provocar lesões de pele ou mucosa.
Na maior parte dos casos, as lesões têm crescimento limitado e habitualmente regridem
espontaneamente. Existem mais de 200 tipos
diferentes de HPV. Eles são classificados em: de baixo risco
de câncer e de alto risco de câncer. Somente os de alto risco estão
relacionados a tumores malignos. Os vírus de alto risco, com maior
probabilidade de provocar lesões persistentes e estar associados a lesões
pré-cancerosas são os tipos 16, 18, 31, 33, 45, 58 e outros. Já os HPV de tipo
6 e 11, encontrados na maioria das verrugas genitais (ou condilomas genitais) e
papilomas laríngeos, parecem não oferecer nenhum risco de progressão para
malignidade.
A maioria das infecções é transitória, sendo combatida espontaneamente
pelo sistema imune, principalmente entre as mulheres mais jovens. Qualquer
pessoa infectada com HPV desenvolve anticorpos (que poderão ser detectados no
organismo), mas nem sempre estes são
suficientemente competentes para eliminar os vírus.
A transmissão é por contato direto com a pele infectada. Os
HPV genitais são transmitidos por meio das relações sexuais, podendo causar
lesões na vagina, colo do útero, pênis e ânus. Também existem estudos que demonstram
a presença rara dos vírus na pele, na laringe (cordas vocais) e no esôfago. Já
as infecções subclínicas são encontradas no colo do útero. O desenvolvimento de
qualquer tipo de lesão clínica ou subclínica em outras regiões do corpo é
bastante raro.
Existem fatores que aumentam o potencial de desenvolvimento
do câncer de colo do útero em mulheres infectadas pelo papilomavírus: número
elevado de gestações, uso de contraceptivos orais (pílula anticoncepcional), tabagismo,
pacientes tratadas com imunosupressores (transplantadas), infecção pelo HIV e
outras doenças sexualmente transmitidas (como herpes e clamídia).
(Fonte: INCA – Instituto Nacional do Câncer
Fonte: DOE, Poder Legislativo, 12/03;2013, p. 5