SÃO PAULO – (Atualizada às 10h53) Um dos principais historiadores do século XX, Eric Hobsbawm morreu aos 95 anos, informou a família dele nesta segunda-feira, de acordo com o jornal “The Guardian”. O pensador marxista britânico morreu no início do dia de hoje, no Royal Free Hospital, em Londres, após uma longa luta contra a leucemia, de acordo com sua filha, Julia.
“Durante vários anos ele esteve combatendo uma leucemia”, disse Julia. “Até o fim fez o que fazia melhor, que é estar a par dos acontecimentos. Tinha uma pilha de jornais junto a sua cama.”
Nascido em uma família judia em Alexandria, no Egito, em 9 de junho de 1917, Hobsbawm viveu em Viena, na Áustria, e Berlim, na Alemanha. Com a ascensão de Adolf Hitler ao poder, sua família seguiu em 1933 para Londres, onde Hobsbawm seguiu seus estudos e se graduou, em Cambridge, além de adotar a cidadania britânica.
O historiador tratou de muitos temas, em sua longa carreira, entre eles a ascensão do Estado-nação, movimentos revolucionários, a história moderna e contemporânea em geral e até, em uma de suas obras, fez uma história social do jazz. Entre seus principais livros estão “A era das revoluções”, “A era do capital”, “A era dos extremos” e “Nações e Nacionalismo desde 1780”. Desenvolveu quase toda sua carreira na Birkbeck University, mas também foi, por exemplo, professor-visitante em Stanford, nos EUA, nos anos 1960.
Os trabalhos do historiador sobre Karl Marx e suas experiências na Alemanha na década de 1930 contribuíram para formar suas ideias políticas. Hobsbawm se incorporou ao Partido Comunista da Inglaterra em 1936 e manteve sua filiação mesmo após os soviéticos reprimirem duramente o levante húngaro em 1956 e as reformas liberais da Primavera de Praga em 1968, ainda que ele tenha se posicionado publicamente contra as duas intervenções.
O “Guardian” lembra que o fato de Hobsbawm ter se mantido fiel ao marxismo ao longo do tempo era alvo de polêmica, sobretudo após ficarem claros os vários abusos cometidos por lideranças socialistas em países como a Hungria e na própria União Soviética em relação aos opositores do regime ou a algumas minorias. Em uma declaração lembrada pelo diário britânico, Hobsbawm disse que nunca tentou minimizar as atrocidades cometidas na Rússia, mas acreditara que o sistema soviético poderia representar uma solução melhor para a humanidade que o capitalismo do Ocidente.
Hobsbawm veio ao Brasil em 2003, para a primeira edição da Festa Literária Internacional de Paraty (Flip). Na ocasião, falou, por exemplo, de sua autobiografia, “Tempos interessantes”.
O último livro do pensador, “Como mudar o mundo”, é uma reunião de ensaios sobre Marx e o marxismo, lançada em 2011. O livro já foi publicado no Brasil, pela Companhia das Letras.
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