O escultor sueco Ferdinand Frick (1878-1939), conhecido como “o escultor da Catedral da Sé”, é tema de exposição em cartaz no saguão principal da Etec Getúlio Vargas até dezembro. O artista foi autor da maquete do que viria a ser a catedral da Arquidiocese de São Paulo e, posteriormente, assinou também oito grandes estátuas que adornam a entrada principal da igreja. Frick guarda uma curiosa relação com a Etec localizada na região sul da capital: ele foi professor da escola por mais de 20 anos (entre 1914 e 1938), quando ela ainda se chamava Escola Profissional Masculina.
Peças assinadas pelo escultor sueco que lecionou na escola foram doadas por familiares do antigo morador da casa onde o artista viveu
As peças em exposição – uma estátua de grandes dimensões, dois painéis em relevo tridimensional e um medalhão – são moldes esculpidos em gesso feitos para obras de bronze destinadas a adornar diversos monumentos paulistas. É o caso da estátua que integra o Monumento a Dom João Nery (localizado na Praça José Bonifácio, em Campinas), assinada por Frick em 1924, e do medalhão esculpido para adornar o túmulo do monsenhor Camillo Passalacqua (1858-1920), também em Campinas.
As quatro obras, assinadas pelo artista, estavam em um casarão antigo na Vila Mariana que pertenceu ao artista. Tudo começou quando a escola foi procurada pela sobrinha do último proprietário do imóvel, que, ao adquiri-lo, optou por manter as obras. Às voltas com o inventário da propriedade após a morte do tio, Lavínia Iervolino Rossini resolveu procurar a unidade escolar para doar as peças.
As professoras Camila Hagio e Patrícia Fildimaque, do Centro de Memória da Etec Getúlio Vargas, responsáveis por coordenar os trabalhos do centro, logo perceberam a relevância do acervo. Em decorrência das dimensões e da fragilidade, as esculturas foram transportadas até a escola em um caminhão com plataforma elevatória. A montagem da exposição no saguão
teve a participação voluntária dos alunos do curso de edificações.
Ex-alunos famosos – A professora Camila explica a importância de valorizar a arte nas escolas cujo foco é o ensino técnico, a exemplo da Getúlio Vargas, que oferece cursos como automação, eletrônica, mecânica, mecatrônica e telecomunicações: “O fundador e primeiro diretor da escola, Aprígio Gonzaga, pregava que a arte é essencial em qualquer ramo do conhecimento. Costumava dizer que o desenho tem a função de diferenciar a nossa indústria, o
que nos permite observar que, já naquele tempo – estamos falando de 1911 –, ele tinha uma visão bastante avançada sobre o desenho industrial e o design. Por essa razão é tão importante retomarmos isso, valorizar essa história”, exalta.
Juntas, Camila e Patrícia dedicam-se aos trabalhos de preservação da memória da Etec Getúlio Vargas, que teve entre seus alunos nomes expressivos das artes plásticas no Brasil, tais como Alfredo Volpi, Marcello Grassmann e Mário Zanini. O espaço guarda relíquias, como móveis e objetos construídos por alunos dos antigos cursos de marcenaria e marchetaria, da escola que por muitos anos funcionou no bairro do Brás. Há também dezenas de publicações, entre livros
didáticos, de registro e boletins.
Um dos volumes, um grande livro de matrículas, traz registros de alunos vindos de países como Portugal, Itália, entre outros, o que favorece a reflexão a respeito do processo migratório vivido pelo País no início do século 20. “Os alunos estão empolgados por conhecer a história da Etec
e orgulhosos por saber que a escola tem uma tradição, algo que vem de muitos anos atrás”, ressalta a professora Patrícia.
“Nossa escola tem uma história rica, que ficou perdida, a qual estamos retomando por meio do nosso Centro de Memória”, completa Camila. O resultado das pesquisas são apresentados aos alunos e à comunidade em forma de eventos e exposições. Atualmente, as professoras dedicam-se ao levantamento de registros sobre o ex-aluno mais célebre: o pintor Alfredo Volpi.
Fonte de pesquisas – Não é só isso. O intuito maior, segundo Camila e Patrícia, é catalogar todos os documentos e peças de acervo do Centro de Memória da Etec, de forma a tornar o local uma fonte original de estudos para outros pesquisadores da área. A ideia, de acordo com elas, é
aumentar a equipe, abrangendo outros professores, funcionários, alunos e a comunidade,
incluindo pais de alunos e ex-alunos. “Com os documentos que estamos catalogando, é possível entender muitas coisas sobre o fundamento da existência dos cursos técnicos”, afirma Patrícia.
Nessa investida, as professoras recebem a aprovação da direção da Etec e têm o apoio do Centro Paula Souza, por meio do grupo de estudos e pesquisas em Memória e História da Educação Profissional (site http://memorias.cpscetec.com.br/). Com o propósito de contar e preservar a história do ensino profissionalizante, o trabalho estimulou a criação de centros de memória em
oito unidades da rede do Centro Paula Souza.
A proposta é, por meio do levantamento, análise e divulgação de inúmeros documentos e ráticas escolares e pedagógicas, oferecer um canal de comunicação entre educadores, pesquisadores e estudantes interessados na memória da educação profissional.
Roseane Barreiros
Imprensa Oficial – Conteúdo Editorial
DOE – Seção I, p. IV