Direção argumenta que equipe é insuficiente para revisões técnicas, necessárias com nova lei de reparte de fundos
PEDRO SOARES
DO RIO
Dezoito coordenadores e gerentes estratégicos ligados à diretoria de pesquisas do IBGE ameaçam deixar os cargos caso a decisão de interromper a divulgação da Pnad Contínua não seja revista.
O levantamento trimestral com dados sobre mercado de trabalho vai substituir a atual pesquisa no ano que vem.
Os técnicos –responsáveis por pesquisas como inflação, PIB e indústria– se queixam de não terem sido ouvidos pela direção. Ontem, eles se reuniram com o conselho diretor, mas não houve solução para o impasse.
ENTENDA O CASO
Na quinta, o conselho suspendeu as divulgações, após analisar um requerimento de informações dos senadores Gleisi Hoffmann (PT-PR) e Armando Monteiro (PTB-PE), indagando a margem de erro dos dados de renda domiciliar per capita, que nem sequer foram divulgados.
É que uma lei editada no ano passado alterou um dos critérios de repartição do Fundo de Participação dos Estados, que passará a levar em conta a renda domiciliar per capita a partir de 2015.
O problema é a grande diferença das margens de erro entre os Estados, que poderia gerar distorções nesses repasses a partir de agora.
São Paulo tinha, por exemplo, em 2012, uma margem de erro de 6%, com a renda variando de R$ 1.282 a R$ 1.448 (média de R$ 1.365). No Acre, a média era de R$ 788, com intervalo de R$ 655 a R$ 920 e margem de erro de 16,7%.
A nova pesquisa, apesar de ter amostra maior, foi planejada com margens de erro semelhantes. A presidente do IBGE, Wasmália Bivar, diz que, antes do pedido dos senadores, não tinha se dado conta de que Estados poderiam pleitear na Justiça a faixa menor de intervalo da margem de erro –já que a participação no fundo é maior para menores rendas.
Bivar afirmou também que, só após o pedido dos senadores, deu-se conta de que tinha de calcular a renda em 2015, e não em 2016.
Segundo ela, embora devesse ter informado os técnicos previamente da decisão de interromper a divulgação da pesquisa, essa é a decisão correta. Ela argumenta que faltam servidores para fazer as mudanças metodológicas e na amostra e, ao mesmo tempo, analisar e criticar os dados da pesquisa para a divulgação.
A decisão já fez com que a diretora de pesquisas, Marcia Quinstlr, e a diretora da Escola Nacional de Estatísticas Denise Britiz pedissem para sair anteontem.
O grupo de 18 técnicos considera “inaceitável” a reprogramação da divulgação da Pnad Contínua. Por enquanto, o IBGE diz que as divulgações seguem suspensas. Uma nova reunião está marcada para segunda. Até a conclusão desta edição, nenhum técnico pediu exoneração.
Folha de S. Paulo