Programação de setembro leva memórias para a calçada do MCB


O Museu da Casa Brasileira (MCB) preparou variada programação de atividades durante este mês. São oficinas, realizadas de terças a sextas-feiras, nas calçadas da instituição, com o intuito de atrair seus frequentadores e pessoas que eventualmente passam pelo local. As atividades gratuitas são relacionadas ao tema “casa”, abordando aspectos e situações do lar onde as pessoas habitam ou habitaram.


Oficinas abordam temas como poesia, desenho e bordado, e despertam nos transeuntes a curiosidade sobre atividades do museu


“Estamos promovendo essas dinâmicas na calçada para que as pessoas possam parar um pouquinho, conversar a respeito de suas lembranças e memórias relacionadas ao tema principal do museu, que é a casa brasileira. A receptividade tem sido excelente. As pessoas param e participam”, comemora Carlos Barmak, coordenador do Educativo MCB. Segundo ele, essas ações despertam aos poucos a curiosidade dos pedestres sobre o que o MCB oferece em termos de exposição e acervo.


“Usamos várias linguagens ao longo da semana. Abordamos a poesia, a prosa e a própria palavra na oficina As palavras e as casas; temos o bordado, na Casa bordada; o desenho, que é feito na oficina Desenhe sua Casa; a oficina da Casa estampada, na qual oferecemos experiência com a serigrafia, entre outras. Tudo relacionado às memórias”, explica Barmak.


Memória escrita – Na quarta-feira, 13, a equipe do Educativo levou para a calçada mesas, cadeiras e antigas máquinas de escrever Olivetti Lettera 32. A intenção é ouvir os relatos afetivos dos pedestres sobre o morar e, a partir das histórias, elaborar transcrições poéticas. Damião Salustino da Silva e Givaldo de Souza Santos Júnior participaram da oficina As palavras e as casas. Eles passavam em frente ao MCB quando foram convidados a contar um pouco de suas histórias, sobre a casa onde moram. Primeiro foi Silva, pintor de casa desempregado, com quatro filhos e esposa para sustentar, mas não encontra trabalho.


Selma Maria, educadora do MCB, poeta e escritora, com dez livros publicados, ouviu a história do Silva e, em seguida, entregou-lhe o seguinte texto poético: “Com terreno da prefeitura, já fiz uma casa de amarração; É agora a casa do meu coração; Seis de frente, cinco de fundo, estou no bloco cru; Ali sonho profundo com o começo e fim do mundo; Moro com quatro filhos e mulher; ali não tem tristeza, família é a minha firmeza”.


“Ela entendeu a minha história, o que faço, como é que eu vivo, e transformou tudo em verso. Foi muito bom”, disse Silva.


Dividindo afetos Recém-chegado e Aracaju, capital sergipana, o jovem Santos Júnior foi se achegando e também quis participar da oficina e contou sua história: há três meses veio para São Paulo em busca de uma vida melhor. Foi morar em Diadema, com mais 15 sergipanos. Todos vendedores ambulantes de castanha de caju. Ele ganhou este poema: “Ema, ema, ema, agora sai um poema, lá em Diadema; Na casa dos castanheiros moram todos os 16 que em São Paulo se acharam de vez; Somos lá de Sergipe, vendemos caju; Cajueiro do ano inteiro; Minha casa meu sombreiro; Na casa tem churrasco, tem unk; Suco de caju tenho no sangue”.


Para Selma, a atividade na calçada é diferente do trabalho diário e solitário que realiza como escritora e poeta. “É uma delícia fazer essa atividade na rua, porque aqui a gente divide esse momento da criação com as pessoas e é muito gostoso, tendo a casa como referência, afinal, ela é o nosso casco, nossa proteção. É o lugar onde a gente consegue se despojar de todas as máscaras, onde há muitas memórias,cheiros e lembranças de família. É muito bom ver as pessoas se abrirem e falarem um pouco desse calor que a casa representa. Aqui nós dividimos afetos, coisa tão difícil em São Paulo”, conta a educadora.


Habitar o sonho Marcos Gorgatti é artista plástico e educador no MCB. Ele convida as pessoas para que contem a história de suas casas e, a partir desse relato, desenha o ambiente. “No Desenho sua casa eu desenho e pinto com aquarela e, depois, entrego para a pessoa. Todas as atividades educativas que o Museu da Casa Brasileira desenvolve estão lastreadas nessa questão fundamental que é o habitar. O pessoal que passa aqui na frente do museu é muito diverso e está sempre apressado. Queremos, de alguma forma, interromper esse fluxo automático e atraí-los para essas atividades e, também, para o museu. Muitos que passam por aqui nem sabem que é um museu. Tem gente que faz o sinal da cruz, pensa que aqui é uma igreja”, conta o artista plástico.


Setembro na calçada


A casa estampada


Dia 19, das 11 às 13 horas


Serigrafia com a artista Monica Schoenacker. O participante poderá estampar um pano de prato e levar para casa


Desenho sua casa 


Dia 20, das 10h30 às 12 horas


Marcos Gorgatti, artista-educador do MCB, faz um desenho da casa do participante, a partir de uma descrição afetiva ou de uma fotografia


As palavras e as casas


Dia 27, das 10h30 às 12 horas


Equipe de artistas-educadores do MCB elabora transcrições poéticas com maquinas de escrever, a partir de relatos afetivos relacionados ao morar


Que objeto é esse?


Dias 21 e 28, das 10h30 às 12 horas


Pessoas que passam em frente ao MCB são convidadas à oficina de observação, focada em objetos domésticos de uso cotidiano. A orientação será da artista Aline Van Langendonck


Atividades internas


Era uma casa muito engraçada


Dias 20 e 27, das 19 às 21 horas


A educadora Marisa Szpigel organiza um grupo de estudos aberto ao público, para refletir a relação dos bebês e crianças pequenas com o mundo. A partir desse olhar, os encontros trabalham leituras e trocas de experiências sobre o tema, criando-se coletivamente uma oficina dedicada aos bebês e às crianças. Há 15 vagas.


Inscrições: agendamento@mcb.org.br ou pelo número (11) 3026-3913


Ofícios


Dia 30, das 14h30 às 16h30


Encontro com profissionais de diversas áreas ligadas ao tema “casa”: pedreiro, encanador, pintor, porteiro, cozinheiro, cuidador, babá, empregado, doméstica, faxineiro, jardineiro, entre outros. Os ofícios e as narrativas de cada profissional servirão de ponto de partida para as oficinas com diversas linguagens


DOE – Seção II, p. IV