Projeto Guri abre inscrições para intercâmbio musical

Em janeiro de 2017, dois jovens músicos irão para a Noruega e outros dois para a República do Malawi por meio da Organização Social Amigos do Guri – entidade responsável pela gestão do Projeto Guri no interior e litoral do Estado de São Paulo. As inscrições encerram-se no dia 30.

Durante seis meses, os quatro selecionados, com idade entre 18 e 25 anos, terão a oportunidade de participar de projetos musicais, sociais e culturais, como workshops, festivais, competições e capacitações.

Os candidatos passarão por pré-seleção, seguida de entrevista e testes, e serão avaliados pelos critérios de responsabilidade, habilidade musical, comunicação e atributos pessoais.

O desenvolvimento da prática musical internacional é resultado da parceria do Musicians and Organizers Volunteer Exchange (Move) com a instituição Music Crossroads da República do Malawi e de Moçambique.

Bons frutos – Quatro jovens brasileiros que participaram do primeiro intercâmbio entre as instituições acabam de retornar ao Brasil: Jassá Aquino e Aydan Schmidt passaram o primeiro semestre de 2016 na Noruega, período em que os colegas Eduardo Scaramuzza e Ananda Miranda estiveram na República do Malawi.

Na mesma época, a Regional de São Carlos, no interior do Estado, acolheu dois jovens músicos noruegueses, Ellen-Martine e Nikolai Gmachl-Pammer, e dois moçambicanos, Lalah Mahigo e Vando Infante.

Segundo Jassá, foram seis meses bem movimentados na Noruega, com muitas novidades. “Nunca imaginei que o Projeto Guri fosse me levar tão longe e me abrir portas para o mundo. Foi uma experiência fascinante!” Naquele país, ele morou na cidade de Melhius, em um internato da Faculdade de Artes.

Como aluno do curso instrumental, Jassá aprendeu o norueguês, além de dar sequência ao curso de percussão e bateria, com foco no jazz. Às quintas-feiras, após o almoço, os alunos executavam músicas variadas, como bossa nova e samba, “em um nível técnico impressionante”, segundo ele.

Na Noruega, entre muitos projetos desenvolvidos, Jassá e Aydan deram aulas para as crianças da região, por três semanas. “Em um desses trabalhos, chamado Ladeha mmer, na cidade de Trondheim, realizamos workshops com as crianças da Escola Rotvoll e, ao término das aulas, fizemos um show. Foi uma experiência de muito aprendizado”, comentam.

Motivação – Jassá também teve a oportunidade de montar um projeto intitulado com o seu nome e a chance de gravar um disco com músicas instrumentais, sendo algumas faixas compostas por músicos noruegueses.

Aydan desenvolveu um trabalho com sete jovens selecionados por ele. Nessa ação, ensinou músicas que resultaram na gravação de um disco com quatro faixas. Além disso, o grupo tocou no festival da cidade e na escola. “Esse festival ampliou minha experiência como músico, pois me fez conhecer mais de perto estilos como o jazz e ampliou minhas possibilidades de improvisação”, afirmou Aydan.

No outro extremo, na República do Malawi, Eduardo, Ananda e a intercambista norueguesa, Karoline Asskildt, desenvolveram o TaKagunda Project – só para meninas com idade entre 10 e 18 anos –, que tem como objetivo o empoderamento feminino por meio da percussão.

O projeto foi conduzido de maneira natural, respeitando os costumes regionais. “É algo que me motivou e me motiva até hoje. No Malawi, as garotas não podem tocar em festas nem em manifestações populares, apenas é permitido dançar e cantar”, lembra Eduardo. Além da criação de Ta Kagunda, em sua passagem pelo país africano, Eduardo descobriu como fazer instrumentos de raiz latino-americana, como ganzás, cowbells, agogôs, xequebaldes e triângulos, utilizando materiais e habilidades locais.

Transformação – Para Ananda, que nunca havia morado em outro país, o intercâmbio foi um momento de novas experiências. Segundo ela, houve um aprendizado musical bastante rico, que lhe possibilitou desenvolver um trabalho que seria lembrado pelas pessoas da região mesmo depois de sua volta ao Brasil.

“Toquei numa banda formada por alunas da Music Crossroads. Inicialmente chamada de Daughters Band 2, era umas das poucas em Lilongwe formada apenas por meninas que tocavam tambor. Apesar de boas instrumentistas, elas demonstravam certa insegurança quanto ao som que produziam”, conta.

Depois de analisar a situação, Ananda percebeu que o trabalho com as garotas ultrapassaria o limite do estritamente musical. “Seria uma reconstrução de pensamento, a começar pelo nome da banda, que foi mudado para Harmony Pluckers, escolhido por votação, e que representava o sentimento delas em relação à música. Os efeitos dessa transformação na vida das garotas foram sentidos além do âmbito musical. Foi uma vitória!”, afirma Ananda.

De acordo com a diretora-executiva da organização Amigos do Guri, Alessandra Costa, o programa Move “é uma oportunidade única para o desenvolvimento da prática musical.” Ela acredita que, além de ajudar os alunos e educadores do Projeto Guri a adquirir novas habilidades musicais, o programa também “propicia um momento para trocas culturais e de experiências, pois proporciona intensa e rica vivência nos lugares para onde os jovens são designados. Todos ganham com isso”, complementa Alessandra.

DOE, Executivo I, 17/08/2016, p. I