São Paulo celebra o Dia do Rio Tietê com ações para despoluir suas águas


Ontem, 22 de setembro, foi comemorado o Dia do Rio Tietê. “Considerado o mais importante de São Paulo, é chamado de rio dos paulistas, porque suas águas permeiam quase todo o Estado. É um rio recheado de histórias, glórias e personagens, que teve seu auge durante os séculos 17 e 18, quando os bandeirantes o utilizavam para adentrar pelo território paulista à procura de ouro, prata e indígenas para escravização,” informa o historia dor e autor do livro Mário Sérgio Morais, Nova História de Mogi das Cruzes.


Estado autoriza obras que vão ampliar o tratamento de esgoto na capital e na Grande São Paulo; investimentos da Sabesp somam R$ 624 milhões e vão gerar 2,6 mil empregos diretos e indiretos


O Rio Tietê nasce a uma altitude de 1.030 metros na Serra do Mar, no município de Salesópolis, atravessa a Região Metropolitana de São Paulo (RMSP) e segue para o interior do Estado, desaguando posteriormente no Rio Paraná, num percurso de quase 1,1 mil quilômetros.


Investimentos Na quinta–feira, 21, o Governo estadual autorizou uma série de obras que vão ampliar o tratamento de esgoto na capital e na Grande São Paulo. Os investimentos da Sabesp somam R$ 624 milhões e vão gerar 2,6 mil empregos diretos e indiretos.


O pacote de ações inclui a instalação de grandes tubulações e de estações de bombeamento que vão beneficiar o centro e as zonas leste, norte e oeste da capital, além das cidades Barueri, Cotia, Itaquaquecetuba, Osasco e Suzano. Com essas obras, o esgoto gerado por 2,2 milhões de pessoas será enviado para estações de tratamento, contribuindo para a revitalização do Tietê e de seus afluentes, entre eles rios importantes como o Tamanduateí e o Cabuçu de Baixo.


O superintendente de gestão de projetos especiais da Sabesp, Carlos Eduardo Carrella, xplica que o Projeto Tietê (que poderá ser concluído até 2020) está em sua terceira fase, com investimentos de US$ 2 bilhões.


Águas limpas O nome Tietê (de origem tupi) significa água verdadeira e foi registrado pela primeira vez no ano 1748 no Mapa da América Meridional, de autoria do geógrafo e cartógrafo francês Jean-Baptiste Bourghignon d’Anville. Diferentemente de um rio poluído como nos dias de hoje, ele teve seu período de glória no início do século 20, com campeonatos de natação e de remo em suas águas. Morais, nascido em Jacareí e criado em Mogi das Cruzes, diz que seu pai, Olivar, pescava na região. “Ele conseguia pegar até dourado. E não é conversa de pescador não!”, brinca.


Na década de 1920, o extinto Clube Tietê criou a travessia a nado no rio, a qual se transformou em evento tradicional por longos anos. O percurso de 5,5 quilômetros iniciava na Ponte da Vila Maria e seguia até o Clube Espéria, na Ponte Grande. Nos anos 1935 1936 e 1947, a disputa foi vencida pelo jovem João Havelange (que mais tarde tornou-se presidente da Federação Internacional de Futebol (Fifa). Na sua última participação, em 1944, contraiu tifo negro e ficou dois anos internado. Em 1972, as regatas foram transferidas para a raia olímpica da Universidade de São Paulo (USP).


Cultura popular O Tietê é frequentemente retratado como símbolo da degradação na qualidade de vida dos habitantes de São Paulo. Uma das mais famosas personagens ligadas ao rio está na série Piratas do Tietê, da cartunista Laerte: o jacaré Teimoso que na vida real foi localizado, há alguns anos, no rio. Após sucessivas fugas, foi resgatado pelos bombeiros e, atualmente, se encontra no Zoológico de São Paulo.


Degradação Ao longo de décadas, o Rio Tietê foi sofrendo com o crescimento desordenado das cidades e com a poluição das suas águas, que mudam de cor de acordo com os municípios por onde o rio passa. Em Mogi das Cruzes, ele começa a receber maior carga de poluição. Os córregos da cidade também levam para o Tietê diversos materiais descartados inadequadamente – de aparelhos de TV a esgoto. Uma realidade bem diferente de onde o rio nasce, em Salesópolis. A nascente do Tietê é protegida pela mata atlântica. Água limpinha e fresca que vai parar na torneira dos mais de 16 mil moradores do município.


O lançamento de esgotos industriais inicia-se a 45 quilômetros da nascente em Mogi das Cruzes, o cinturão verde do Estado. Na zona metropolitana de São Paulo, o rio encontra o maior complexo urbano-industrial do País, e conhece um de seus trechos mais poluídos, o Rio Tamanduateí.


Turismo Em alguns municípios paulistas, o Tietê ainda atrai turistas do Brasil e do exterior. Barra Bonita, distante 288 quilômetros da capital paulista, é um exemplo. O passeio de barco pela eclusa é a principal atração da cidade e diversão para a toda a família. As embarcações sobem o rio em direção à usina hidrelétrica. O passeio tem duração de duas a três horas. A paisagem é surpreendente: pássaros, peixes e 40 quilômetros de praias às margens do rio.


Mudanças Criado em 1992, o Projeto Tietê, executado pela Sabesp, investiu US$ 2,7 bilhões em coleta e tratamento de esgoto na Grande São Paulo. De lá para cá, aumentou a coleta de esgoto de 70% para 87%, e o tratamento, de 24% para 68%. A companhia passou a tratar o esgoto de 8,5 milhões de pessoas – o equivalente a toda a população de Londres.


A meta do Projeto Tietê é reduzir a mancha de poluição do rio. Nesta sexta-feira, 22, a ONG SOS Mata Atlântica divulgou os resultados do monitoramento da qualidade da água feito por voluntários. O estudo aponta uma diminuição de 7 quilômetros no trecho considerado morto. Ele agora soma 130 quilômetros de extensão. A mancha de poluição, localizada entre os municípios de Itaquaquecetuba e Cabreúva, representa hoje 22,5% do trecho monitorado de 576 quilômetros do rio. A avaliação da qualidade da água e da evolução dos indicadores de impacto do Projeto Tietê refere-se ao período de setembro do ano passado a agosto de 2017.


Maria Lúcia Zanelli


Imprensa Oficial – Conteúdo Editorial


DOE – Seção I, p. I