Agência comemora participação de gigantes privadas; estatal brasileira fica com 40% do campo
VALDO CRUZ
ENVIADO ESPECIAL AO RIO
DENISE LUNA
PEDRO SOARES
DO RIO
O maior campo de petróleo já descoberto no Brasil, Libra, na bacia de Santos, foi vendido ontem no Rio pelo valor mínimo: um bônus de R$ 15 bilhões e a devolução do equivalente a 41,65% do petróleo a ser produzido.
A falta de concorrência e de ágio na quantia a ser devolvida (chamada de lucro-óleo) deveu-se à participação de apenas um consórcio, quadro muito diferente das expectativas iniciais.
O governo esperava que 40 empresas se habilitassem, que houvesse concorrência acirrada e que o interesse da China em garantir fornecimento de combustível elevasse as ofertas e engordasse a parcela de lucro da União.
O grupo vencedor, classificado pelo Planalto de o “maior consórcio do mundo”, foi formado pela estatais Petrobras, CNPC e Cnooc (ambas chinesas) e as privadas Shell (anglo-holandesa) e Total (francesa), que estão na lista das 15 maiores petroleiras.
O grupo arrematou o campo gigante, com reservas de 8 bilhões a 12 bilhões de barris de petróleo e uma produção que deve chegar, no pico, a 1,4 milhão de barris diários –hoje, toda a produção brasileira é de cerca de 2 milhões de barris por dia.
CHINESAS MODESTAS
A oferta que arrematou o campo de Libra, que demandará investimentos de R$ 200 bilhões em 35 anos de concessão, levou três minutos.
A participação de apenas um superconsórcio ganhou força ontem pela manhã, quando a espanhola Repsol saiu da disputa, ao lado da Sinopec, sua sócia chinesa.
Para o setor, a surpresa foi a participação modesta das outras duas estatais chinesas, que arremataram 20% da concessão. Ficou a dúvida sobre quem vai financiar a Petrobras em sua parte no bônus de R$ 15 bilhões. Com 40% do consórcio, a estatal arcará com R$ 6 bilhões.
A expectativa era que os chineses financiassem a Petrobras, que enfrenta dificuldades de caixa. Com a participação menor dos chineses, essa foi uma questão que não foi esclarecida ontem.
O presidente da Shell no Brasil, André Araújo, nega a possibilidade de que as chinesas banquem a parte da estatal brasileira. “Cada uma investirá a parcela correspondente a sua participação.”
Para João Carlos De Luca, presidente do IBP, o resultado mostra que entraram com força apenas empresas que já conhecem o mercado brasileiro e estavam dispostas a correr mais riscos.
Entre as incertezas, diz, estão os altos investimentos necessários e as dúvidas quanto à implementação do modelo de partilha, que será gerido pela nova PPSA (veja quadro ao lado).
Justamente por causa dos pesados investimentos, Magda Chambriard, diretora-geral da ANP, praticamente descartou a realização de um novo leilão do pré-sal em 2014.
“A quantidade de bens e serviços para desenvolver é imensa. Tudo isso leva a crer em um novo leilão daqui a dois ou três anos.”
Segundo o ministro Edison Lobão (Minas e Energia), se ocorrer, uma nova oferta será restrita a áreas fora do pré-sal no ano que vem.
BRASIL GARANTIDO
O governo comemorou o fato de a Petrobras ter ficado com a maior fatia individual do consórcio, 40%, o que tira, na visão do Planalto, o discurso de opositores de que o governo estaria entregando as reservas brasileiras.
Além disso, celebrou a participação de empresas privadas de grande porte.
Outro ponto positivo destacado foi a tímida participação das estatais chinesas.
“Acabou com a mística de que os chineses iam tomar conta de todo o pré-sal. Dentro das circunstâncias atuais, foi bom, com duas companhias que já estão no Brasil [Shell e Total] e duas estreantes”, disse De Luca, do IBP.
Para Magda, é importante que o país possa contar com empresas “de excelência mundial” para desenvolver o campo. “Poderia ter sido melhor com disputa, mas com as mesmas empresas que venceram. Com elas, estamos seguros que Libra terá o melhor desenvolvimento.”
Presente ao leilão, a presidente da Petrobras, Graça Foster, deixou o local sem falar com a imprensa.
Folha de S. Paulo