Setembro amarelo é o mês dedicado à campanha contra o suicídio e amanhã, sábado, será lembrado como Dia Mundial de Prevenção. Dados de 2015, da Organização Mundial da Saúde (OMS), alertam que mais de 800 mil pessoas cometem suicídio no mundo todo ano, o que representa uma morte a cada 40 segundos. O Brasil é o oitavo país com mais número de óbitos desse tipo (em 2012 foram registrados 11.821 casos). Naquele ano, a Índia estava em primeiro lugar (258 mil), seguida da China (120 mil).
O psiquiatra Teng Chei Tung, coordenador do Serviço de Interconsultas do Instituto de Psiquiatria (IPq), comenta que as causas do suicídio são multifatoriais. “As doenças mentais como depressão e esquizofrenia, seguidas da dependência de álcool e drogas, estão entre os principais motivos que levam o paciente a se matar”, explica o especialista do IPq, ligado ao Hospital das Clínicas (HC) da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP).
Doenças clínicas que ocasionam dor crônica, problemas neurológicos com sintomas de impulsividade (como epilepsia) e momento de revelação de moléstias graves como câncer e HIV/aids também favorecem a tentativa de suicídio em quem tem tendência genética. “O fator genético justifica mais casos de suicídio numa mesma família”, ressalta Tung.
Preconceito – O psiquiatra lamenta preconceito existente sobre esse assunto. “Muitas pessoas dizem que não querem nem chegar perto da vítima. Já o doente, acha que sua situação não tem saída e avalia que se matar seria um alívio”, analisa. Ele orienta que quem pensa em tirar sua própria vida deve procurar ajuda de um familiar, amigo ou profissional de saúde, pois há solução para preservar a vida. Outra sugestão é contatar o Centro de Valorização da Vida (CVV), que oferece várias opções de acolhimento, como telefone, chat, skype e outras (ver serviço).
O relatório da OMS mostra que as taxas de suicídio são maiores entre os que têm mais de 70 anos, mas atinge também outras faixas de idade. O documento divulga que o problema é importante causa de mortes entre as pessoas de 15 a 29 anos e que os homens são os que mais morrem por suicídio, em especial, na faixa dos 50 anos.
Tung diz que não há explicação clara para esses dados. Na opinião dele, é maior a incidência de morte entre os jovens devido à exposição ao álcool e drogas: “Já os idosos, acredito, avaliam não ter muito tempo de vida e, devido à piora da saúde, buscam o suicídio. Os homens, em geral, têm mais dificuldade de procurar ajuda psicológica e psiquiátrica, além de escolherem métodos mais eficazes como armas e enforcamento”.
Desbloquear potencial – A solidariedade é a palavra-chave da trajetória de Nelson Alves Pego, voluntário do CVV há 36 anos. Ele conta que o serviço mais procurado da instituição é o telefone gratuito 141, que funciona 24 horas por dia, em 72 unidades espalhadas pelo Brasil, e é conduzido por 2 mil voluntários.
“Recebemos um milhão de chamadas por ano, o que corresponde a uma ligação a cada 40 segundos”, informa. As pessoas procuram a ajuda por motivos diversos, como solidão, problemas pessoais, falta de coragem para desabafar com a família, depressão, dependência química e outras questões.
Ele informa que frases como “Qualquer hora acabo com tudo isso” ou “Quero dar um fim à vida” são sinais de que algo está errado. As pessoas também precisam de ajuda quando abandonam hábitos rotineiros e hobbies, por exemplo.
O voluntário diz que o trabalho da instituição é oferecer acolhimento. “Não orientamos sobre conduta de vida, pois acreditamos que cada um tem seu potencial, que, naquele momento, está bloqueado. A conversa facilita o desabafo, a pessoa se sente mais leve e reúne condições para tocar a vida”.
Quando o usuário solicita, os colaboradores do CVV informam os serviços públicos disponíveis para determinada situação (como serviços jurídicos, internação para dependente químico, Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas, hospitais e outros).
No Metrô – A cor amarela da campanha significa atenção às pessoas próximas. Amanhã, quando será celebrado o Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio, o CVV montará tenda na Estação Tatuapé do Metrô, das 8 às 18 horas. Haverá distribuição da cartilha Falando Abertamente sobre suicídio (disponível no link goo.gl/WGYLJY) e outros materiais educativos.
Os voluntários estarão à disposição para conversas individuais e sigilosas sobre prevenção ao suicídio. O Monumento às Bandeiras, no Ibirapuera, a estátua do Borba Gato, em Santo Amaro, ambos na zona sul, e a Estação Sumaré do Metrô serão iluminados com a cor amarela para lembrar a data.
“Sinto-me gratificado pelo trabalho voluntário quando alguém me diz que a vida dela tem um divisor de águas depois de nossa conversa; não há dinheiro que pague isso”, avalia Nelson.
Quem quiser ingressar no CVV deve participar do curso gratuito de voluntários, nos próximos dias 24 e 25, das 13h30 às 18h30, na Rua da Abolição, 411 – Bela Vista. Não é necessária inscrição prévia para as 50 vagas disponíveis. Outras informações pelo telefone (11) 3242-4111.
DOE, Executivo I, 09/09/2016, p. IV