SP qualifica bibliotecários para o uso de recursos acessíveis


Antes de iniciar o treinamento para utilizar os equipamentos de tecnologia assistiva, o revisor de braile, da Biblioteca Louis Braille do Centro Cultural de São Paulo (CCSP), Edvaldo dos Santos, já testava o escâner leitor de mesa, teclado ampliado e computador com display em braile recebidos do projeto Acessibilidade em Bibliotecas. Ministrado para profissionais do serviço bibliotecário de 14 municípios paulistas, o workshop ocorreu ontem, no CCSP, para expor estratégias de uso de tecnologias que assegurem às pessoas com deficiência acesso à cultura.


Além de dispor de tecnologias assistivas, 62 bibliotecas de São Paulo terão profissional capacitado para ampliar o atendimento a pessoas com deficiência e tornar esses espaços de cultura inclusivos


“As tecnologias e os equipamentos por si só não equiparam as oportunidades das pessoas com deficiência em relação às demais. Precisamos de profissionais comprometidos com a missão de dar acesso à informação a esse segmento da sociedade”, salienta Carla Mauch, palestrante do workshop. A meta é capacitar, até outubro, os


profissionais de 62 bibliotecas dos 55 municípios integrantes do projeto da Secretaria de Estado dos Direitos da Pessoa com Deficiência, que têm parceria da Secretaria Estadual de Justiça e da Defesa da Cidadania e recursos do Fundo de Interesses Difusos (FID).


“Estou na área há 27 anos e conhecia os equipamentos”, informa Santos, que tem baixa visão e explica os serviços oferecidos aos usuários da Biblioteca Louis Braille. A bibliotecária Bruna Pacheco informa receber cem pessoas por dia: a maioria em busca de livros em braile ou audiolivro. É o caso de Salvador Pinheiro Queiroz, frequentador do local há 30 anos, o qual lê cinco livros por mês. “Aqui tem livros atualizados. Leio Érico Veríssimo, Élio Gaspari e acabei os 54 volumes da bibliografia de Getúlio Vargas”, conta o maranhense que gosta de ler ouvindo notícias no rádio. Ainda garoto, aprendeu braile no reglete (instrumento de aprendizado de braile) que carrega consigo até hoje.


Acessíveis e inclusivas Criada há 70 anos, a biblioteca especializada produz livros em braile (transcrição dos livros impressos) e falado (digitalização e gravação de voz) e promove cursos de braile nas máquinas Perkins (alfabeto braile). Com os novos equipamentos será ampliada a produção, esclarece Bruna. “Vai enriquecer o trabalho das bibliotecas acessíveis e ampliar a oferta de serviços especializados”, destaca a diretora da Divisão de Bibliotecas do CCSP, Juliana  Lazarim.


Essa realidade é bem diferente da Biblioteca Municipal de Arujá, informa a bibliotecária Alda Martins Soncini. “Temos somente saraus dedicados a pessoas de baixa visão.” Para ampliar o atendimento à pessoa com deficiência, elaborou o projeto Asas e inscreveu no concurso Acessibilidade em Bibliotecas. Os projetos selecionados foram premiados com kit de equipamento de tecnologia assistiva e treinamento dos funcionários.


“Os equipamentos estão no escritório e vim aprender a usar os recursos assistivos”, destaca Alda. “Nossa ideia é dar asas, dar liberdade às pessoas com deficiência para que elas tenham acesso a tudo, igual às demais pessoas da nossa cidade”. A pasta dos Direitos da Pessoa com Deficiência reforça a expectativa de que os equipamentos sejam utilizados no máximo de suas potencialidades e que, embora tenham características voltadas para pessoa com deficiência visual, eles ofereçam múltiplos usos que possam ser aproveitados por outros segmentos sociais.


Mais leitores A Biblioteca Mario Schenberg, da capital, enviou Dennis Morales e Rômulo de Souza para participar do workshop. Profissionais de tecnologia da informação, os jovens vão “instalar os equipamentos e repassar as informações aos demais”, explica Morales. “Vamos atender os usuários da biblioteca também”, acrescenta Souza. Bibliotecária da Monteiro Lobato de Guarulhos, Rosangela Silva destaca que os equipamentos serão usados no curso de tecnologia assistiva a ser oferecido a profissionais e familiares que lidam com pessoa com deficiência.


Há 12 anos à frente da instituição, Rosângela informa que a Monteiro Lobato oferece curso de braile para professores da rede pública, livros em braile, e tem profissional que faz transcrição da tinta para o braile (uma página de impresso equivale a três em braile) e audiolivros produzidos na cabine de gravação. “Temos 40 funcionários e todos motivados em dar mais autonomia à pessoa com deficiência.”


Além de ter a missão de ampliar a frequência de pessoa com deficiência, as bibliotecas participantes do programa vão elaborar pesquisa de satisfação com usuários dos equipamentos e relatório semestral sobre o número de frequentadores e as ações desenvolvidas com base nos equipamentos disponibilizados. Participaram do primeiro curso de capacitação profissionais de Arujá, Cajamar, Caraguatatuba, Ferraz de Vasconcelos, Guarulhos, Jundiaí, Lorena, Santana de Parnaíba, Santo André, São Bernardo do Campo, São José dos Campos, São Paulo, Suzano e Taubaté.


Kit acessibilidade Algumas bibliotecas receberam equipamentos do kit tipo 1 (ampliador automático, escâner leitor de mesa, teclado ampliado, mouse estacionário, software de voz sintetizada para atuação com o software leitor de tela NVDA e computador); outras do kit 2, que contém os elementos do kit 1 mais um display braile e impressora braile.


Claudeci Martins


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