Diante do agravamento da estiagem, governo Alckmin reduziu oferta de água para evitar um rodízio na Grande SP
FABRÍCIO LOBEL
DE SÃO PAULO
A Sabesp quer reajustar em 22,7% a conta de água para, segundo a empresa do governo Geraldo Alckmin (PSDB), contornar os gastos extras com a mais grave crise de abastecimento do Estado.
O pedido de aumento foi feito ontem (16/4) à Arsesp, agência reguladora do setor. A agência já havia autorizado aumento de 13,8%, mas a Sabesp pediu mais, o que será analisado nos próximos dias.
O último reajuste na conta, de 6,5%, ocorreu em dezembro. Desde então, a inflação acumulada é de 4,63%.
De acordo com a proposta da Sabesp, uma família com baixo consumo (10 mil litros por mês) que hoje paga R$ 36 passaria a desembolsar R$ 44, num aumento de R$ 8.
Esse perfil de conta representa 55% das residências da região metropolitana de SP.
Segundo a Sabesp, a diferença entre o que ela pede (22,7%) e o que foi proposto pela Arsesp (13,8%) acontece pela necessidade de repor perdas com a crise desde 2013.
“A Arsesp está olhando daqui pra frente. Pedimos que se considere as perdas de 2013 e 2014”, disse o diretor financeiro da empresa, Rui Affonso.
No pedido de reajuste, a Sabesp informou à agência que a crise hídrica forçou o crescimento do custo energético da empresa (no tratamento de água) e uma drástica redução da água vendida aos consumidores –diante da estiagem e do colapso dos reservatórios, menos água foi distribuída pelos encanamentos.
Antes dessa crise, a Sabesp distribuía 73 mil litros de água por segundo. Agora, passou para 54 mil l/seg.
O sistema Cantareira, por exemplo, o maior da Grande SP, operava nesta quarta com 15,4% da capacidade –há um ano, estava com 31,9%.
De acordo com o diretor financeiro da Sabesp, o gasto para financiar o bônus para quem economizar água não entrou na conta para esse pedido de revisão da tarifa.
Também, segundo ele, não foram consideradas a crise econômica no país e a desvalorização cambial.
Mesmo que a proposta da Sabesp para o reajuste seja aceita na próxima reunião da Arsesp, na semana que vem, a empresa continuará sob “estresse” financeiro, segundo o diretor da empresa.
Em 2014, a empresa viu seu lucro despencar de R$ 1,9 bilhão para R$ 903 milhões.
Esse recuo se deu justamente pela queda no faturamento de água e pelo aumento de custos operacionais, como a captação do fundo das represas –manobra que exige o uso diário de bombas.
Folha de S. Paulo