Tecnologia torna cirurgias mais rápidas e seguras

Um novo equipamento do Hospital de Clínicas (HC) da Unicamp deverá tornar mais rápidos e seguros procedimentos de remoção de tumores cerebrais, biópsias e outros tipos de cirurgias intracranianas, como as de epilepsia. Trata-se do neuronavegador, que deverá entrar em funcionamento no final deste mês.

O sistema trabalha com imagens de ressonância magnética do cérebro, registradas antes da cirurgia. Paralelamente, um laser toma as coordenadas externas do crânio e sensores são colocados em instrumentos nas mãos do neurocirurgião. Durante o procedimento cirúrgico, com câmeras apontadas para a cabeça do paciente, o equipamento transpõe para uma tela o que o médico enxerga no cérebro e correlaciona essa visão com os exames de imagem.

É como uma navegação na região do cérebro que está sendo manipulada. Se, antes, o neurocirurgião precisava estudar previamente a ressonância, para identificar no cérebro do paciente aquilo que havia observado, o neuronavegador faz isso diretamente.

O aparelho, adquirido a um custo aproximado de R$ 1,5 milhão, está instalado no HC da Unicamp, em fase de ajustes. “Hospitais privados de grande porte dispõem desse aparelho, mas na rede pública não é comum”, diz o professor Fernando Cendes, neurologista da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp.

O equipamento foi adquirido por intermédio de um projeto de pesquisas sobre epilepsia e acidente vascular cerebral, mantido pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), chamado Cepid-Brain do qual Cendes é o pesquisador responsável. “A verba vem da Fapesp porque o projeto aborda pesquisa relacionada ao tratamento de doenças neurológicas, como epilepsia. Servirá para desenvolvê-la de forma mais sofisticada”, diz Cendes.

Sobreposição – O equipamento alemão, de última geração, permite que o neurocirurgião tenha uma visão mais precisa dos limites de um tumor, assim como identificar e preservar vasos sanguíneos e áreas do cérebro responsáveis pela fala, visão e locomoção, entre outras. “A sobreposição de imagens possibilita evitar lesões durante a ressecção de tumores. As informações podem ser conferidas em tempo real durante a cirurgia ou acessadas remotamente de outra sala”, explica Cendes.

Uma aplicação de grande importância do neuronavegador é a utilização em casos de craniotomia, procedimento no qual o cirurgião retira temporariamente um osso, para fazer uma janela que permita o acesso ao cérebro. “Há sempre dificuldade para saber a exata localização da região que será aberta. Com o equipamento, o cirurgião tem uma ideia muito melhor do local”, afirma Cendes.

O pesquisador informa que o aparelho destina-se a procedimentos no cérebro e também na coluna, já que “ambos estão envoltos em uma carapaça óssea muito grande”. Ele compara: “Numa cirurgia no abdome ou no pulmão, existem outros meios para visualizar os órgãos. É possível, por exemplo, introduzir uma sonda com videocâmera, que indicará com precisão o local procurado. No cérebro, não. Existe um osso que é preciso removê-lo para se ter acesso ao local desejado”.

DOE, Executivo II, 25/08/2015, p. II